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A peça de teatro adaptada pelo grupo A Barraca, a partir do texto de Sttau Monteiro, está repleta do típico teatro Brechtiano, característica aliás, deste grupo de teatro. Isto porque, para além de se ter contado a história do livro de Sttau Monteiro, os actores através do seu modo de representação tentaram captar e fazer passar também os sentimentos implícitos na peça. Este tipo de acção dos actores, não teria sido conseguida caso estes seguissem as regras cénicas clássicas que já advêm da antiguidade Greco-Romana. Como bem foi explicado na pequena introdução feita de modo a entender-se o contexto histórico, político e social da época onde se passa a acção da peça, Portugal no início do século XIX, após as invasões Francesas e os momentos de revoltas liberais que começavam a despontar por todo o país.
Outro aspecto da introdução feita por Maria do céu Guerra, a que dou um ponto positivo na minha crítica, é o de ter estabelecido uma ponte entre o tempo histórico do texto e o tempo histórico em que Sttau Monteiro escreve esta história, no Estado Novo. Esta comparação, ao ser feita, para os espectadores mais atentos, permite perceber que o tipo de sociedade e de mentalidades durante mais ou menos 100 anos não mudaram muito, o que subentende que Sttau Monteiro, ao escrever este texto, tivesse também a fazer uma crítica negativa à sociedade Portuguesa que ficava sempre inactiva perante as adversidades.
O espectáculo em si, para além do tipo de representação Brechtiana que já referi, deixa também entender ao longo da peça que existia um fio condutor que ligava as diversas cenas existentes, como efeitos de luz, ou objectos que indicavam que a cena já não se passava num determinado local da cidade de Lisboa mas sim noutro, como por exemplo um bidon que servia de aquecimento para os sem abrigo da cidade de Lisboa, e que auxiliado pelos efeitos de sonoplastia e luminotecnia, servia de elemento para a mudança de cena ou de espaço de acção.
A história em si entende-se perfeitamente, conseguindo-se perceber as diversas mudanças de personagens feitas pelo mesmo actor. Portanto, gostei da representação dos actores. Mesmo os monólogos, por vezes extensos, feitos por algumas personagens, embora tivessem o aspecto negativo de serem por vezes longos de mais, pois caso não sejam bem feitos podem tornar-se desinteressantes e pouco cativantes, conseguiram cativar a audiência, e muito mais, por vezes vi pelos olhares dos espectadores, que os actores tinham conseguido para além de passar a mensagem, interagir psicologicamente com as pessoas.
Os cenários, esteticamente simples, eram originais. Isto porque ao longo da peça o cenário manteve-se sempre igual, mas o facto de ter em si vários elementos distintos que interligavam as cenas do teatro fez com que o modo como o cenário fora feito fizesse sentido e que houvesse lógica na sua exposição no palco.
Alguns elementos do cenário, só por si, não tinham uma beleza por aí além, mas ao serem incorporados na cena com os actores a servirem-se desses objectos, fez com que as cenas se tornassem belas e com significado.
A luz neste espectáculo, na minha opinião, teve um papel fundamental, pois conseguiu juntar ou afastar as personagens do momento em que estavam. Para além de conseguir criar bons momentos cénicos, também contribuiu para um melhor entendimento da peça.
No geral, a meu ver, a adaptação de texto de teatro Felizmente há Luar, de Luís de Sttau Monteiro, pelo grupo de teatro A Barraca, foi bem conseguida, cativando a minha atenção e compreensão por todos os elementos apresentados anteriormente.
Vasco Custódio
Vasco Custódio
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