segunda-feira, 29 de novembro de 2010

AVISOS

- Os alunos que ainda não enviaram a parte escrita relativa ao Treino de Oralidade, devem fazê-lo com urgência.
- Cada dia de atraso em relação à entrega do Diário Poético está a sofrer penalização. No entanto, não entregar equivale a classificação zero.

Sumários da semana de 29 de Novembro

Teste e correcção.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sumários da semana de 22 de Novembro

Conclusão do estudo de Mensagem: Poemas "O Infante", "Mar Português" e "O Quinto Império".
Estrutura, mito, simbolismo, sebastianismo e Quinto Império.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Diário Poético, "A Beleza do Mundo"

"(...] de um lado estavam a descobrir a cada momento novas curiosidades a satisfazer, estavam a ganhar gosto por aquelas leituras e aqueles estudos como nunca antes tinham imaginado; por outro lado estavam ansiosos por voltar para junto das outras pessoas, por retomar o contacto com a vida que lhes surgia agora tanto mais complexa quanto mais renovada aos seus olhos; [...]"
"Um general na Biblioteca", in: CALVINO, Italo. A Memória do Mundo. Lisboa. Teorema. 1995

É isto que pretendo com os diários poéticos dos alunos: que sejam a aprendizagem e a demonstração de como os textos literários podem contribuir para outro olhar sobre o mundo: uma visão mais acutilante, mais complexa, aberta, mais espantada, mais ética, mais estética, mais apaixonada, mais inteligente, mais vibrante.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sumários da semana de 15 de Novembro

Análise de momentos líricos e de passagens d'Os Lusíadas inseridas nos seguintes episódios: "Batalha de Aljubarrota", "Despedidas em Belém" e "Velho do Restelo". Comparação com texto "Praia das Lágrimas" de Manuel Alegre.
Estudo d'Os Lusíadas: "Adamastor" e "Ilha dos Amores". Revisão das páginas de estudo.

Sumários da semana de 8 de Novembro

Leitura e análise de textos sobre V Império, utopia e símbolo.
Visualização de uma página electrónica sobre a estrutura da Mensagem. O simbolismo na forma e no conteúdo.
Leitura e análise do "Consílio dos Deuses".
Leitura e análise do poema da Mensagem: "Mostrengo".
Leitura e comentários a textos sobre Os Lusíadas e a Mensagem: figuras históricas e heróis-símbolo, da guerra contra os infiéis à febre do além. e do Império terreno ao Império espiritual.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Vírgula



Sobre a Vírgula

Muito
bonita a campanha dos 100 anos da ABI
(
Associação Brasileira de Imprensa).

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere..

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode criar heróis..
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.


Detalhes Adicionais:
COLOQUE UMA VÍRGULA NA SEGUINTE FRASE:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.


* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER...

* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...

Ponto da situação:

Chamo a atenção para a página "moodle", onde foram acrescentados textos e outros materiais de apoio para o estudo d'Os Lusíadas e de Mensagem, e ainda actualização dos elementos avaliáveis neste 1º período:

Teste, Diário Poético, Sumários, Treino de oralidade e respectivo registo escrito, Memorização de um poema de Mensagem e de uma estrofe d'Os Lusíadas, texto descrevendo e comparando um símbolo da Regaleira (ver "links" com fotos no blogue) e um poema de Mensagem, outros trabalhos adicionais, interesse e empenho (atitudes, comportamentos), assiduidade, pontualidade.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sumários da semana de 2 de Novembro

Leitura e análise comparada do episódio do "Gigante Adamastor" d'Os Lusíadas e do poema "O Mostrengo" de F. Pessoa.
Leitura expressiva do poema.
Leitura e análise de parte do "Consílio dos Deuses".

Treino de oralidade

  • Primeiro minuto: Leitura de um excerto da auto-biografia de Marina Nemat intitulado A prisioneira de Teerão.


   «A coberta que pendia da cama foi levantada e uma vaga de luz irrompeu na escuridão do meu esconderijo. Um rosto desconhecido fitava-me. Era o rosto de um jovem com cabelo negro e encaracolado e olhos escuros, os olhos mais escuros que jamais vira. O seu rosto parecia extremamente branco em contraste com o cabelo e o seu sorriso era quente e doce. Quis perguntar-lhe quem era, mas não consegui.
   - Olá - disse ele.
   A sua voz era suave e delicada, dando-me a coragem de que precisava. Saí a rastejar de debaixo da cama. Ele vestia uma longa túnica branca e estava descalço. Toquei-lhe nos dedos dos pés. Estavam quentes. Ele inclinou-se, ergueu-me, sentou-se na minha cama e pegou-me ao colo. Uma fragrância suave enchia-me as narinas; era como o perfume de narcisos num dia de chuva.
   - Chamaste-me e eu vim - disse ele, e começou a afagar-me o cabelo. Fechei os olhos. Os seus dedos corriam pelo meu cabelo, lembrando-me a brisa primaveril envolvendo o calor do sol entre os ramos de árvores que despertavam. Encostei-me ao seu peito, sentindo como se o conhecesse, como se nos tivéssemos visto antes, mas sem saber onde nem quando. Olhei para cima e ele sorriu com um sorriso intenso e afectuoso.
   - Porque não tens chinelos calçados? - perguntei-lhe.
   - Lá de onde venho não são precisos chinelos.
   - És o meu anjo-da-guarda?
   - Quem achas que sou?
   Fitei-o durante um momento. Só um anjo-da-guarda podia ter olhos como os seus.
   - És o meu anjo-da-guarda.
   - Acertaste.
   - Como te chamas?
   - Sou o Anjo da Morte.
   O meu coração quase parou.
   - Por vezes, a morte é dificil, mas não é má nem assustadora. É como uma jornada até Deus; como as pessoas só morrem uma vez, não conhecem o caminho, por isso eu guio-as e ajudo-as na passagem.
   - Estás aqui para me levares contigo?
   - Não, ainda não.
   - Ajudaste a Bahboo?
   - Sim, ajudei.
   - Ela está feliz ?
   - Está muito feliz.
   - Ficas um pouco comigo ?
   - Fico.
   Encostei-me ao seu peito e fechei os olhos. Sempre me perguntara o que sentiriam os pássaros quando planavam ao vento, banhando-se ao sol e confundindo-se com o céu, Agora, já sabia.»


  • Segundo minuto: Breve apresentação do livro do qual foi lido o exerto.


  O livro trata do preço que uma rapariga iraniana teve de pagar pela sua liberdade e principalmente pela sua vida.
   Em 1982 o Iraque estava em guerra com o Irão e eram perseguidos todos aqueles que se opunham ao islamismo fundamentalista.
   Marina Nemat tinha apenas dezasseis anos quando uma das suas aulas de matemática fora substituída pela leitura do Corão, o que a levou a reclamar contra isso e até a criticar o governo no jornal escolar. Foi arrancada a família, presa, torturada e condenada à morte por traição.
   Entretanto, um dos seus muitos carcereiros apaixonou-se loucamente por ela e tentou que a pena fosse mudada. Assim foi, comutando a pena em prisão perpétua. Mas isso custou-lhe um preço. Ela teria de casar com ele, sob a ameaça de a família sofrer se tal não acontecesse, podendo apenas sair para visitar a família com a sua autorização e sob a sua custódia. A relação dos dois foi sempre uma mistura complicada de pavor e ternura. Mas tudo isso viria a mudar quando o Ali, o seu carcereiro, acabaria por morrer nos braços de Marina, dando-lhe a oportunidade de ganhar a sua liberdade, dois anos mais tarde.
   Vendo-se livre do seu pesadelo e das coisas horríveis que fora obrigada a viver na prisão, resolve dar rumo a sua vida. Conhecendo um canadiano, acaba por formar uma família, do outro lado do Oceano Atlântico, no Canadá.
   Vinte anos depois, sentindo-se ainda presa às memórias, Marina resolve publicar o livro, contando detalhadamente a passagem dolorosa que teve pela prisão de Evin.
   Apesar de tudo, a todos os que contribuiram para a sua impiedosa caminhada, Marina oferece o maior dom de todos: o perdão.

  • Terceiro minuto: Improvisação acerca das "Ondas".


  Começo por dizer que as ondas são uma das coisas que tanto trazem paz a nossa alma, como podem deixá-la agitada.
Pessoalmente acalmam-me, mas só de longe, a observá-las. Tenho respeito por elas. São imponentes. Não gostaria de desafiar tal força da natureza.
   A primeira coisa que me ocorre é o Verão. As ídas à praia, a praia lusitana. Sím, a praia lusitana é dona de ondas superiores, em força e tamanho,  às ondas do Mar Negro, das minhas origens. Talvez por não saber nadar, acho-as superiores à natureza humana. E assim é: filhas da Mãe Natureza, transportam os genes da louca força de quem esta é dona, pondendo libertá-la a qualquer que lhe quiser fazer frente.
   Elas podem dominar-nos tanto a a nível físico como a nível psicológico. Dando a tamanha força que têm, conseguem controlar-nos e envolver-nos como um manto que nos quer proteger do frio do inverno, mas que nos consegue "sufocar" de tanta protecção. Mas se pensarmos bem, se estivermos num estado melancólico, elas atraem-nos e deixa-nos flutuar mais e mais, de maneira que nos afundamos em pensamentos e perdemos o rumo e a noção da realidade.
   As ondas são donas de sí e de tudo o que se encontra à sua volta, não dando oportunidade de justificação nem tendo porquês de serem assím.

Iustina, 12ºB

domingo, 7 de novembro de 2010

Diário poético, A Beleza do Mundo

Pensava hoje que tenho pena que a versão de Mensagem lida pelos alunos esteja na grafia actual. Por essa razão, apeteceu-me colocar aqui um dos poemas estudados tal como foi escrito pelo poeta:


D.SEBASTIÃO
'Sperae! Cahi no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervallo em que esteja a alma immersa
Em sonhos que são Deus.
 
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
 
Aqui fica, também, a ligação para uma página onde podem encontrar os poemas na versão original (a imagem pertence à mesma página):
 

Diário Poético

E outra proposta (para relacionar com uma das narrativas):

"O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos. "
Emil Cioran

Diário Poético

O poema abaixo destina-se a um desafio que vos fiz para uma das páginas do vosso diário poético: relacionar este poema com uma das narrativas lidas na aula.

"ESTUDO", de Marin Sorescu

Há muito que suspeitava de mim mesmo
E hoje persegui-me durante todo o dia
A uma distância que evitasse suspeitas.

Pois sabei que sou mais perigoso do que imaginava,
Quando saio à rua, olho à direita e à esquerda
Como se fotografasse incessantemente
As casas, os homens, os postes telegráficos
E todas as riquezas.

Depois, sem reparar
(Talvez para não ser reeconhecido)
Altero a expressão da alma,
O meu rosto é um verdadeiro alfabeto morse
Que transmite constantemente sabe-se lá que segredos
Aos homens da lua que apuram o ouvido para escutarem.

Quando estou sentado à mesa
Rasgo uma folha de papel
Em pedacinhos que, uma vez feitos numa bola.
São imediatamente arremessados ao esquecimento,
O que é muito estranho.

Esta noite descerei no meu sono
Por uma corda que levo para isso no bolso,
Para ver o que ali confessa o indivíduo,
De que se recorda espontaneamente
E - algo mais importante - quem é que
lhe proporciona estas relações entre as coisas.
Depois disso tudo iniciarei
O preenchimento da ficha.

in Simetria.Trad. colectiva. Quetzal. Lisboa. 1997

Pessoa e V Império



"(...)
Caeiro, poeta materialista, é de facto o verdadeiro reconstrutor do paganismo (p. 115). António Mora é o continuador filosófico de Alberto Caeiro. A ele compete provar a verdade metafísica e prática do paganismo; a ele cabe reatar a tradição perdida da obra negra (que não é nem romana nem semita); a ele cabe reconstruir o naturalismo grego, como consta da Athena e do programa do periódico; a ele cabe atacar de frente o espírito filosófico, "que data, na sua forma mais recente, de Kant, e que pretende centralizar no homem e na consciência individual a realidade do Universo"; a ele cabe fazer guerra directa a quantas formas literárias pertencem ao misticismo cristão; a ele cabe combater as ideias imperialistas, colectivistas, humanitárias (p. 139-140). Mora, o autor das obras teóricas que são o Regresso dos Deuses e o Paganismo Superior pretende, como Nietzsche, acabar com a metafísica e inventar um começo novo para lá da metafísica, identificada como platónica, inclusive na sua versão cristã definida como hiperplatonismo. Nietzsche diz de facto que o cristianismo é um platonismo para o povo. Para contrariar essa deriva vai beber nas fontes gregas (Heraclito, Homero) afim de aí encontrar os recursos de um pensamento positivo que oponha ao "niilismo europeu". E pretende ainda fundar uma nova definição do sujeito (como não-sujeito) e uma nova definição do homem como "Superhomem". Repare-se entretanto que na descrição que faz do Neo-Paganismo Português, Fernando Pessoa acredita, como os neo-platónicos, no Intermediário Intelectual, Logos na linguagem dos filósofos, Cristo (depois) na mitologia cristã.

Por mais de uma vez se aproximou a Mensagem de Pessoa à luz do paradigma utópico. Sabemos que o conceito de panteísmo serve de base à tematização do sebastianismo pessoano (2). De acordo com L. F. Teixeira, "mesmo a noção messiânica deve ser entendida como génese do Homem Total, aliás à semelhança do que aconteceu, entre outros, com o projecto de Sampaio Bruno" (3). Não vou entrar na diiscussão de um paganisno tipicamente português, com bases numa "cristologia pseudobucólica" e num "paganismo transcendentalista" que estaria patente no VII poema do "Guardador de Rebanhos" e na figura crística de D. Sebastião. Acontece que uma vez só nas Obras de António Mora se fala de messianismo, como o segundo elemento que fundamenta a religião cristista. O segundo elemento de onde deriva a moral do cristismo é o monoteísmo estreito e intolerante, o moralismo farisaico, o messianismo já desnacionalizado dos hebreus, corrupto já pela contínua intromissão de elementos orientais, na sequência, aliás, da tradição orientalizante do espiritismo judaico (p. 230).
[...]"

in:  http://triplov.com/coloquio_4/mourao.html

A propósito de MENSAGEM de F. Pessoa e de V Império

Outras ligações:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_da_Regaleira

http://lusophia.portugalis.com/forum/forum_posts.asp?TID=37&PN=1

http://triplov.com/coloquio_05/regaleira/index.htm  (fotos)

http://triplov.com/coloquio_05/mario_claudia_01.html

A propósito de MENSAGEM de F. Pessoa e de V Império



A- Simbologia:

Numa primeira aproximação às fontes da simbologia presente da quinta, podemos adiantar, em termos muito sumários, alguns tópicos acerca da arquitectura e simbologia da Regaleira.

A arquitectura da quinta, principalmente do palácio, da capela e do edifício das cocheiras, é classificável como revivalista, com elementos neo-manuelinos, neo-góticos, neo-renascentistas e, em alguns casos, mitigadamente neo-românicos.

Tendo em conta a época da sua construção, trata-se de uma opção estilística anacrónica em termos europeus, mas razoavelmente sincrónica no contexto português, pois se bem que o Palácio da Pena (para dar apenas um exemplo) seja cerca de meio século anterior, o revivalismo tardio deixou marca evidente no nosso país, porventura em resultado do influxo das reacções nacionalista (e, portanto, historicistas) à difícil situação política, social e económica que caracterizam o Portugal da viragem do século XIX para o século XX.

A simbologia presente na Regaleira, muito sinteticamente, pode enquadrar-se nas seguintes tipologias:

a) Manuelina- Embora com menos profusão do que, eventualmente, se poderia admitir à partida, encontramos as cruzes de Cristo, a esfera armilar, alguns cordames, efígies de navegadores das Descobertas e, mesmo, a “empresa” de D. João II: o pelicano alimentado as crias com a sua própria carne;
b) Cristã- Claramente marcada pelo catolicismo romano, de que Carvalho Monteiro era fervoroso seguidor, particularmente pelo culto mariano tão relevante na Europa do Sul e, marcadamente, em Portugal, encontramos sinais evidente de um cristianismo algo místico (Santa Teresa de Ávila e, noutro sentido, Santo António) com traços de um certo maniqueísmo atribuível a Santo Agostinho;
c) Familiar e narcísica- Na quinta abundam as referências, de diversa ordem, à pessoa de Carvalho Monteiro, bem como vários elementos escultóricos que comprovadamente tiveram por modelo elementos da família (filhos e netos do proprietário), nomeadamente representados em quadros de felicidade pautados pelo contacto com a natureza;
d) Naturalista- São inúmeros os exemplos de figuras animais que, em nosso entender, se relacionam directamente com o conservacionismo naturalista da época, praticado por Carvalho Monteiro ao longo da sua vida, nomeadamente pela participação activa na criação e gestão do Jardim Zoológico de Lisboa. Acresce a presença do extravagante e hiperbólico aquário da Regaleira;
e) Greco-romana- Embora como uma espécie de excepção (eventualmente atribuível à herança cultural de Luigi Manini), a mitologia greco-romana encontra-se na estatuária e decoração da parte baixa dos jardins, no painel de azulejos da estufa e, ainda que indirectamente, na decoração central da entrada dos Tritões, no troço superior dos túneis;
f) Enigmática- A alguns elementos da simbologia da Regaleira tem sido atribuído carácter esotérico. Na esmagadora maioria dos casos tais teses não resistem, em nossa opinião, ao escrutínio de uma observação crítica e apoiada na ciência histórica, como é o caso da representação Cristã de Deus que, logo após a entrada, se encontra na capela. De toda a forma, alguns outros elementos simbólicos merecem discussão, em particular a “boca ameaçadora” da fachada posterior da capela e as figuras de Santos, cuidadosamente orientadas, que decoram a torre do mesmo edifício.

Parece-nos particularmente curioso, para não dizer mais, que não se encontre na Regaleira qualquer referência simbólica ou imagética a Luís de Camões, quando é dado histórico incontornável que Carvalho Monteiro reuniu a que era considerada a melhor e maior biblioteca camoniana do mundo, tendo patrocinado diversas edições do e sobre o Poeta, bem como tendo fundado e animado diversas associações camonianas, tanto em Portugal como no estrangeiro.

B- Os túneis da Regaleira e outros elementos dos seus jardins

Os túneis da Regaleira parecem-nos continuar a constituir o quadro distintivo essencial da quinta e, em forte medida, o seu maior mistério ou, pelo menos, a fonte principal de controvérsia e debate.

Não sendo viável alongar o debate sobre os túneis, nos limites deste artigo, ensaiemos, ao menos, a sua descrição, sem deixarmos de relevar alguns dos seus traços simbólicos mais intrigantes.

Na parte baixa dos jardins da Regaleira, após passar-se o vulgarmente denominado “patamar dos deuses”, em atenção às estátuas de divindades greco-romanas ali existentes, aproveitando o caminho que passa pela “casa dos íbis”, acede-se ao troço inferior dos túneis da Regaleira.

Esta primeira parte dos túneis funciona como um labirinto, pelo seu carácter intrincado, que obriga o visitante a percorrer voltas e voltas, quase sobre o mesmo local, dificultando a sua orientação.

Ora, o labirinto é uma combinação da espiral e da trança, pelo que pode ser tido como uma figuração do infinito, num caso perpétuo e noutro do eterno retorno. É também uma figuração da viagem das trevas à luz, portanto podendo representar o caminho iniciático, inclusivamente sob a forma exclusivamente interior, que conduz à morte simbólica do profano e à ressurreição do iniciado, como um homem novo.

O outro elemento evidente deste troço de túneis é o lago, o qual é por vezes apresentado como simbolizando o olho da Terra, pelo qual os habitantes do mundo subterrâneo podem visualizar o que existe no nosso mundo exterior, sem esquecer a referência às águas genesíacas e ao nascimento do Homem através das águas do ventre materno.

Saídos do labirinto subterrâneo da Regaleira, avançamos pelos jardins, a caminho da parte alta da quinta.

Antes de atingirmos o troço superior dos túneis, passamos pelo aquário.

O aquário da Regaleira é uma curiosa construção, desenhada como se de um maciço rochoso natural se tratasse, que se enquadra de forma perfeita na vegetação densa dos jardins, onde igualmente existe uma pequena escada em caracol, que através da artificiosa edificação permite o acesso a um outro caminho, junto ao qual, após uma curva pronunciada, se encontra a que consideramos ser a primeira entrada do troço superior de túneis.

Nesta segunda rede de subterrâneos, mais linear que labiríntica, encontramos um conjunto de cinco locais de entrada, duas das quais na forma de poços, a saber:
a) O poço que denominaremos imperfeito;
b) O poço principal, perfeito;
c) A arcada com torreões, decorada com duas figuras animais e um búzio;
d) O lago;
e) O picadeiro ou campo de ténis.

Para que a visita possa ter carácter simbólico, independentemente da sua função à data da construção, a primeira entrada a considerar é o poço imperfeito, o qual, com apenas 8 metros e 90 centímetros de fundo, tem uma estrutura central que é o poço em si próprio, formada por pedras toscas intercaladas e que permitem visualizar o seu fundo, por trás das quais se desenrola a escada em caracol que leva à parte mais profunda da construção.

Como o poço tem, também, uma pequena escada superior, haverá que seguir por esta, chegando-se a um beco sem saída ? Escolhemos, talvez com o receio decorrente do aspecto tosco e pouco iluminado da construção, a escada que desce, acedendo então a um túnel e à viagem subterrânea que este possibilita.

Estamos na base do poço imperfeito. Os jardins, a luz do dia (ou da Lua ...) ficaram para trás. Entremos no túnel. Avançamos agora por galerias baixas e relativamente apertadas, onde rapidamente não chega qualquer luz natural e que também não dispõem de iluminação artificial.

O troço superior de túneis da Regaleira não constitui, directamente, um labirinto, mas tem com este e com a sua carga simbólica uma relação, pois os seus caminhos subterrâneos podem levar a diferentes direcções.

Alguns metros após sairmos do poço imperfeito, encontramos uma passagem à esquerda, que conduz a um beco sem saída. Temos necessariamente que recuar, voltando ao subterrâneo anterior, e decidir se regressamos ao poço e ao exterior, ou se a nossa coragem nos impulsiona mais além.

Nada nos orienta nessa escolha, nenhuma diferença na aparência do túnel, nenhum sinal ou decoração. Avançamos no sentido original, aparentemente para as profundezas da terra, e logo alguns metros adiante encontramos uma nova encruzilhada. Ou seguimos em frente ou avançamos por um outro túnel, à nossa direita.

Vemos alguma luz ténue à direita e somos, eventualmente, tentados pela proximidade da superfície da terra, pelo nosso mundo de todos os dias. Avancemos, para já, na direcção da luz. Encontramos adiante uma nova bifurcação. De novo duas opções.

Se formos pelo túnel da esquerda, desembocamos no que parece um picadeiro, referenciado pela historiografia como o campo de ténis da quinta.

Nada de muito especial nos chama a atenção, pois a superfície de terra que, nos dizem ter sido o local onde se praticava o ténis, encontra-se enquadrada, sem grande magnificência, por um pequeno troço de muralhas, onde se divisam com torres.

Vamos, de outra forma, admitir que escolhemos avançar em diante, na última bifurcação dos túneis por onde passámos. Chegamos rapidamente a um lago, sendo a saída do túnel por uma arcada enquadrada pela pedra que, artificialmente, cria uma encosta pedregosa na sequência da superfície de água.

Sobre o lago encontra-se uma ponte que permite transpor ambas as margens e aceder a pequenos caminhos entre a vegetação, bem como às estradas de terra que rompem os jardins da Regaleira. Se escolhermos não regressar aos subterrâneos, do caminho junto ao lago chegaremos rapidamente à zona das cocheiras ou, por diferentes vias, a qualquer outra parte da Regaleira.

Pela nossa parte, pretendemos seguir o nosso trajecto oculto e conhecer as restantes componentes dos túneis, pelo que iremos admitir que logo no caminho original, oriundo do poço imperfeito, escolhemos avançar sempre em frente, pelos subterrâneos escuros e húmidos, sem prestar qualquer atenção às vias laterais que encontrámos, saindo desse túnel central.

A alguma distância do poço imperfeito, vemos de novo a luz, a qual nos chega através de um harmonioso arco. Vemos então o impressionante poço perfeito, nos seus 23 metros e 60 centímetros de altura, decorado interiormente por 22 nichos, de diferentes dimensões, sem qualquer conteúdo, e com a sua escada em caracol, com dez patamares, enquadrada por leves e graciosas colunas.

O eixo da entrada inferior do poço está directamente orientado Este – Oeste, considerando o nosso sentido de marcha vindos do subterrâneo. No chão, vemos uma rosa dos ventos, desenhada em mármore de cor rosada e branca, a qual se insere de forma perfeita na acima referida orientação cardinal do poço.

Estamos ainda na base do poço perfeito e, por cima de nós, vemos no topo da construção a luz do Sol. Há, portanto, que subir em direcção à luz. Enquanto subimos, não temos qualquer forma de saber se e como poderemos sair pelo topo do poço.

Sensivelmente a meio caminho das escadas, por alturas do quarto patamar, uma nova alternativa nos surge. Há, de facto, um novo acesso a um túnel, no final do qual se divisa, algo indistintamente, a luz do Sol. Podemos, portanto, abdicar de subir ao topo do poço, chegando sem dúvida mais rapidamente ao exterior.

Chegámos a uma outra saída dos túneis, neste caso enquadrada por uma ampla construção que simula um troço de muralha, com pequenas torres nos dois extremos e um varandim com cúpula ao centro.

Ao centro da construção encontra-se um arco de volta redonda, onde se podem observar alguns motivos simbólicos interessantes.

A decoração do arco inclui treze vieiras estilizadas, de entre as quais apenas as duas que se encontram mais em baixo, nas duas bases do arco, apresentam a face convexa. Na face interior do arco vemos peixes, em número de doze, de aspecto relativamente grotesco.

Ao centro do arco encontra-se um conjunto escultórico constituído por um grande búzio, ao qual se encontram agarrados dois animais de aspecto reptíliano, em cujos membros inferiores e base do dorso vemos entrelaçadas folhas e caules de nenúfar.

Talvez a presença do búzio nos facilite a interpretação. Efectivamente, existe uma concha espiral, confundível com o búzio, que é vulgarmente denominada tritão, na medida em que na mitologia greco – romana essa concha seria tocada por Tritão, filho de Neptuno e de Anfitrite. Esse deus marinho é muitas vezes representado acompanhado dos tritões, seus descendentes, que simbolizam as ondas.

Neste contexto, por correlação com o búzio – tritão ao qual se agarram, os seres reptílianos representados neste portal dos túneis poderão, eles próprios, tratar-se de tritões, animal da família das salamandras (salamandridae, género trituri).

Curiosamente, no interior do grande búzio, algo dissimulado, encontramos um búzio de pequenas dimensões. De novo a simbologia, aquática, da geração da vida ?

Talvez mais curioso ainda é o facto do arco que referimos ter sido equipado com um tubo de água, dissimulado, que muito embora não se saiba se alguma vez esteve operacional teria permitido criar uma cortina de água cobrindo toda a superfície do arco... e ocultando a entrada para os túneis.

Regressemos, por uma última vez, ao nosso trajecto original através dos túneis de Regaleira.

Caso não nos tivéssemos desviado a metade da subida do poço perfeito, optando por subir até ao seu topo, prosseguindo literalmente para a luz, teríamos chegado a uma varanda superior, da qual poderíamos ter prosseguido por uma outra escada até a um último patamar, que não leva a nenhum lugar, mas apenas à visão da copa das árvores dos jardins e do céu, sobre estas.

Da varanda é possível sair para os jardins, por um leve toque numa (aparente) parede de pedra lisa, a qual, como que por magia, se mostra uma porta secreta giratória e que conduz a um recanto dissimulado entre altas pedras cobertas de musgo.

Avançando para os jardins, se olharmos para o local de onde viemos, observamos apenas o que parece ser um grupo rochoso entre a vegetação da Regaleira, o qual oculta totalmente quer o topo do poço, quer a sua secreta porta de saída.

Quem se encontre nos jardins, não só não tem forma de saber onde se encontra o acesso ao poço, como não poderia também compreender de onde teríamos saído, caso não fosse conhecedor dos sigilosos subterrâneos da quinta da Regaleira.

C- A Capela

Num extremo do terreiro fronteiro ao Palácio da Regaleira, em plano inferior à (outrora) magnificente a estufa da quinta, encontra-se a capela da Regaleira.

O pequeno templo, profusamente decorado, contém múltiplos elementos simbólicos que motivam discussão mais ampla que a abrangência do presente artigo.

Afirmemos, portanto, apenas a nossa convicção de que a capela da Regaleira é – somente – um templo Cristão, integrado no catolicismo romano e caracterizado pelo culto mariano, onde perpassa uma certa visão mística e algo maniqueísta da religião.

D- O Palácio

Atravessando o terreiro acima referido, atinge-se o Palácio da Regaleira, o qual consideramos ter tido função estritamente residencial.

Valerá a pena registar algumas curtas notas acerca da utilização das diversas parcelas do palácio, à época de Carvalho Monteiro.

No andar térreo, o acesso principal ao edifício faz-se por um hall de entrada, em frente do qual se estende um longo corredor rectilíneo.

À direita do corredor, para quem entra, temos a sala de jantar, imediatamente seguida por uma copa, equipada com um elevador que permitia o transporte de alimentos e objectos a partir da cozinha.

Seguidamente, encontra-se um amplo hall que liga à varanda exterior e uma sala de estar.

Do lado esquerdo, sempre relativamente à entrada, encontrava-se originalmente a escadaria principal de acesso aos andares superiores, cuja supressão, por iniciativa de Waldemar D’Orey, nos deixa apenas observar, actualmente, o amplo salão do palácio.

Após o salão existia uma sala pequena, onde foi colocada, também por iniciativa de Waldemar D’Orey, a nova escadaria de acesso aos andares superiores do edifício.

Ao fundo do rés – do – chão encontra-se a sala de bilhar, profusamente decorada com imagens de carácter nacionalista e elementos heráldicos.

Também nesta divisão a obra de Carvalho Monteiro foi extensamente modificada, pois foram retirados os bancos de madeira, embutidos na parede, que permitiam assistir aos jogos de bilhar.

Para a memória fica ainda a notícia da existência de provérbios em latim pintados nas paredes do rés-do-chão, que hoje em dia não se encontram visíveis.

Por seu turno, o primeiro andar do palácio é composto pelos quartos da família. O quarto grande com terraço era o de Carvalho Monteiro e mulher, existindo ainda um quarto de vestir, decorado no friso junto ao tecto com frescos, de temática medieval, divisão essa com acesso à escada de caracol exterior.

A referida escada dá acesso ao segundo andar, directamente ao escritório de Carvalho Monteiro.

Nesse andar, as restantes divisões estavam destinadas ao alojamento das empregadas. Convirá aproveitar a oportunidade para esclarecer que os empregados do sexo masculino alojavam-se na cave, que em parte funciona como andar térreo relativamente aos jardins, onde se encontravam igualmente a cozinha e as áreas de serviço.

No terceiro andar do palácio situava-se o quarto de engomar, equipado com pequenos tanques de lavar, bem como uma sala que dá acesso a um amplo terraço.

Vale a pena referir que se encontra patente no palácio da Regaleira a exposição de objectos maçónicos da colecção Pisani Burnay.

E- Curtos tópicos acerca da história do esoterismo português

Tendo em conta a referência constante a temática esotérica, a propósito da Regaleira, parece-nos oportuno incluir neste artigo algumas notas, em forma de tópicos, sobre a história do esoterismo português, por forma a enquadra o debate histórico sobre a Regaleira.

Do ponto de vista da ciência histórica – muito embora haja que sublinhar que a maior parte do trabalho de investigação estará ainda por realizar – o esoterismo português não se pode considerar particularmente fecundo, particularmente se o olharmos comparativamente à volumosa informação, sustentada em fontes históricas, disponível acerca de outros países europeus.

Olhando apenas os séculos XIX e XX, verificamos facilmente que avulta de forma muito evidente em Portugal a presença da maçonaria, regular, depois irregular e, desde a década de noventa do passado século, regular e irregular.

Relativamente a outras correntes esotéricas, relacionadas ou não com a maçonaria, parece certo afirmar que só com o pós- 25 de Abril passamos a encontrar activas em Portugal diversas vias iniciáticas e espiritualistas, o que, aliás, resulta perfeitamente consonante com as longas décadas de conservadorismo e de restrição das liberdades vividas no nosso país.

Admitimos como perfeitamente viável que alguns, particularmente “estrangeirados”, tenham de uma forma ou de outra contactado com as múltiplas vias do esoterismo europeu, designadamente em França, país que durante longo período funcionou como principal referencial cultural da intelectualidade portuguesa.

No entanto escasseiam (para não se dizer que não existem) as fontes que nos permitam afirmar a actividade, por exemplo, de organizações martinistas em Portugal.

Uma das fontes a que podemos recorrer são os escritos de Fernando Pessoa sobre este assunto, mas importará recordar que estes são um pouco posteriores à época na qual viveu Carvalho Monteiro e, portanto, durante a qual foi construída a Quinta da Regaleira que hoje conhecemos, pelo que a sua utilidade para o debate no âmbito do tema desta visita é claramente discutível.

Em especial, não podemos deixar de sublinhar de forma clara que não existe qualquer registo de actividade neo-templária em Portugal na época histórica que nos importa, ao estudarmos a Regaleira, sendo, aliás, conhecidas fontes históricas da maçonaria portuguesa do século XIX que, a propósito da presença dos mitos templários nos rituais da maçonaria, afirmam expressamente a ausência de conexão entre a maçonaria portuguesa e as Ordens do Templo e de Cristo, enquanto ordens militares religiosas com presença relevante na História de Portugal.

Assim sendo, não conhecemos qualquer fundamentação cientificamente válida que possa relacionar a Regaleira com vias esotéricas ou iniciáticas, sendo absolutamente manifesta a ausência de conexão de Carvalho Monteiro com a maçonaria, ao menos em Portugal e, muito em especial, à época da edificação da quinta.

Bibliografia:

Para além de múltiplas referências em periódicos, desde a época da sua construção e até aos nossos dias, a bibliografia que segue incluí de forma bastante abrangente os escritos disponíveis sobre Regaleira, bem como os relativos a Carvalho Monteiro e a Luigi Manini.

- Adrião, Vitor Manuel; “Sintra, Serra Sagrada”, Comunidade Teúrgica Portuguesa, 1990 e 1994 (edição revista), Sintra;
- Anacleto, Maria Regina Dias Baptista Teixeira, “Arquitectura neomedieval portuguesa”, Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Coimbra, 1997;
- Anes, José Manuel Morais:
1- “Quinta da Regaleira- a estranha mansão” (em co-autoria com Paulo Pereira), in “Quinta da Regaleira e Quinta do Relógio”, Centro Nacional de Cultura, Lisboa, 1991;
2- “Digressão Hermética por uma Mansão Filosofal portuguesa, o “Palácio Milhões” em Sintra”, “Vária Escrita”, nº 1, Janeiro-Junho de 1994, Gabinete de Estudos Históricos e Documentais, Sintra;
3- ”Re-criações herméticas- ensaios diversos sob o signo de Hermes”, Editora Hugin, Lisboa, Outubro de 1996;
4- “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, terceira parte “O simbolismo iniciático e esotérico da Regaleira”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998;
5- “O esoterismo da Quinta da Regaleira” (entrevista de Victor Mendanha), seguido de “A linguagem dos pássaros”, Hugin Editores, Lisboa, 1998;
- Almeida, Pedro Basto; “Quinta da Regaleira – a desconstrução do mito”, GIFI – Associação Portuguesa para a Investigação (aguarda publicação);
- Azevedo, José Alfredo da Costa; “Velharias de Sintra”, volume I, Câmara Municipal de Sintra, 1980;
- Dionísio, Sant’anna; “Guia de Portugal”, volume 1- Lisboa e arredores (reedição), Coimbra, 1982;
- “História da Arte em Portugal”, volume 10 (Regina Anacleto) e volume 11 (Manuel Rio-Carvalho), Publicações Alfa, Lisboa, 1986;
- Juromenha, Visconde de; “Sintra Pinturesca ou Memória Descritiva da Vila de Sintra, Colares e seus arredores”, reimpressão anastática da edição original (Lisboa, 1838), Câmara Municipal de Sintra, Sintra, 1990;
- “L’ ópera del genio italiano all’estero- Gli artisti in Portogallo”, La Libreria dello Stato, Roma, 1940;
- Lund, Christopher e Kahler, Mary Ellis; “The portuguese manuscripts collection of the Library of Congress- A guide”, Library of Congress, Washington, 1980;
- Pereira, Denise, “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, primeira parte “Quinta da Torre da Regaleira”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998
- Pereira, Paulo,
1- “História da arte portuguesa”, (direcção), Círculo de Leitores, Lisboa, 1995;
2- “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, segunda parte “A Quinta da Regaleira. Simbolismo e História da Arquitectura”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998.
- Ramalho, Américo da Costa; “The portuguese pamplhets”, in “The Library of Congress Quarterly Jornal of Current Acquisitions”, 20, Washington, Junho 1963, pág. 157 a 162;
- Santos, J. Eusebyo dos; “Guia de Cintra, Collares e arrabaldes”, Lisboa;
- Stoop, Anne de; “Quintas e palácios dos arredores de Lisboa”, Civilização, Barcelos, 1986.


in:http://www.gifi.pt/portal/programs/ewpview.aspx?codigo=REGALEIRA 

Treino de Oralidade:



1:

“Desta vez não pude segurar as lágrimas. Esmurrei o peito forte e libertei a angústia que me consumia. Tristan não tentou demover-me do pranto. Confortou-me apenas, como se conhecesse intimamente a minha necessidade de desabafar. Murmurou-me palavras doces e embalou-me carinhosamente, até que o silêncio nos abraçou, e o tempo caiu sobre nós como gotas de chuva.
Não sei em que momentos a raiva e a mágoa se desvaneceram e o prazer da sua proximidade se tornou mais forte do que tudo. Quando procurei o seu olhar, encontrei-o marejado de lágrimas. Tristan não se perdoava pelo que dissera. Mesmo que eu afirmasse mil vezes que não havia o que desculpar, ele continuaria a macerar-se por ter desconfiado da minha lealdade.
Sem controlo da vontade, acariciei-lhe a face quente com as pontas dos dedos, surpreendendo-me com o seu sobressalto. Sabia que estava a brincar com o fogo, mas nem pensava em parar. A barba rija arranhava-me a pele; contudo, não era desagradável. Pelo contrário, provocava-me arrepios de calor. Deixei a mão deslizar pelo seu rosto, fixando o olhar nos lábios entreabertos, imaginando como seria bom sentir o seu toque e desejando-o.
 - Cat…
O apelo de Tristan era um pequeno e vão protesto; um aviso de que a situação estava a fugir do seu domínio. Um aviso inútil, pois os seus olhos declaravam que já não existia força no mundo capaz de nos separar.
Quando os meus dedos se entrelaçaram nos cabelos negros, os lábios de Tristan desceram e o meu gemido de antecipação afundou-se na boca ávida. O beijo de Oliver fora uma experiência estranha e traumática, que me deixara insensível perante o seu entusiasmo. O beijo de Tristan foi indescritível. Os seus lábios começaram por mover-se com um carinho quase fraternal. A forma como estremecia, denunciava um tremendo esforço para controlar a vontade de me devorar. Temia assustar-me! Contudo, ao aperceber-se do meu arrebatamento, deixou-se possuir pelo ardor e apertou-me com mais força, explorando a minha boca, tal como Oliver fizera. Só que, desta vez, todos os meus sentidos estavam despertos e receptivos. Deliciei-me com o sabor da sua saliva e entreguei-me sem reservas. Senti-me levitar e cair, com o corpo a arder e a mente a delirar. A paixão era isto? Então, eu queria mais!”

CARVALHO, Sandra. A Última Feiticeira. A Saga das Pedras Mágicas. Editorial Presença.











2- Dissertação:

A Saga das Pedras Mágicas estreou-se com o livro “ A Última Feiticeira”. Conta-nos toda uma história de fantasia passada no tempo em que os Seres Superiores, poderosos feiticeiros, viviam isolados da espécie humana de forma a não existirem quaisquer eventualidades que pudessem gerar conflitos entre espécies. No entanto, uma feiticeira de nome Arawen renunciou aos seus poderes mágicos para se poder casar com o mortal por quem se apaixonara. Para que esses poderes não fossem desperdiçados, ela guardou-os dentro de sete pedras mágicas, destinando cada uma delas aos seus filhos. Ao longo das gerações, estas pedras vão sendo cobiçadas quer por mortais quer por feiticeiros, originando diversas peripécias.
No entanto, como regem as regras dos contos de fadas, o destino das personagens iguala-se ao apaixonante ambiente que as rodeia e, quase que por obrigação, o “mal cai e o bem triunfa”.
A autora desta saga tem o nome de Sandra Carvalho, nasceu em 1972, em Sesimbra. A sua história como escritora resumia-se a contos destinados aos seus entes mais queridos, mas com a estreia deste livro foi surgindo mais um todos os anos, perto da época natalícia.
Assim, o seu potencial literário é publicado e torna-se no seu ganha-pão (como que uma solução para as compras de Natal) e numa escapatória para todos os leitores que gostam de se imaginar fora de um Mundo onde as crises têm um início e um meio, mas nunca um fim.
Estas histórias são cativantes e apaixonantes pela magia que transborda das suas páginas, é impossível ficar-se indiferente a tamanha beleza e tranquilidade, descrita através de palavras calorosas.
A escrita de Sandra Carvalho apesar de correcta e bem estruturada, nota-se ainda algo juvenil como que em fase de aprendizagem surgem palavras “caras” de forma exageradamente repetida, como por exemplo a palavra “algoz” (medo): é nos dada a ler tantas vezes que nos oferece a ideia da autora, de forma frenética e desesperada, agarrada a um dicionário à procura de uma palavra extravagante para tornar o seu texto mais rico.
Contudo, confesso-me uma amante da vida e, em paralelo, dos sonhos. Poder imaginar-me num equilíbrio entre os dois faz-me ansiar pelo devorar dos próximos livros.   

3- Momento de Improvisação:



“Casas”

No singular, uma casa é um abrigo, o nosso abrigo.
É nada mais que um espaço fechado que nos oferece o dom de abrir e fechar a porta, podendo optar por aquilo que entra e nos apazigua o espírito e aquilo que fica lá fora em junção com todas as outras tormentas.
A nossa casa é o nosso reflexo. É o local que nós escolhemos para podermos ser nós próprios e podermos ser as figuras de autoridade.
A nossa casa é a nossa oportunidade de refúgio; e as casas…, bem, essas são os pertences de alguém cheio de sorte, alguém cuja vontade de fuga pode ser sempre respondida com espaços abertos para si, mas fechados para o resto do mundo.


Mariana Fonseca, 12º F

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Diário Poético: A beleza do mundo

"O Sol, logo em nascendo, vê primeiro"
Os Lusíadas, Dedicatória, estrofe 8

Agora, no caminho para a escola, o sol já está mais alto. É menos noite, ou mais dia, menos misterioso e mais acordado, o caminho. Já não lhe vejo o nascer ao passar, ele já não me vê ao nascer quando passo.
Está mais alto e tenho de me virar para trás para o ver. Mas sinto-o a seguir-me. Aquece-me a sombra. Solarmente.