segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Treino de oralidade

  • Primeiro minuto: Leitura de um excerto da auto-biografia de Marina Nemat intitulado A prisioneira de Teerão.


   «A coberta que pendia da cama foi levantada e uma vaga de luz irrompeu na escuridão do meu esconderijo. Um rosto desconhecido fitava-me. Era o rosto de um jovem com cabelo negro e encaracolado e olhos escuros, os olhos mais escuros que jamais vira. O seu rosto parecia extremamente branco em contraste com o cabelo e o seu sorriso era quente e doce. Quis perguntar-lhe quem era, mas não consegui.
   - Olá - disse ele.
   A sua voz era suave e delicada, dando-me a coragem de que precisava. Saí a rastejar de debaixo da cama. Ele vestia uma longa túnica branca e estava descalço. Toquei-lhe nos dedos dos pés. Estavam quentes. Ele inclinou-se, ergueu-me, sentou-se na minha cama e pegou-me ao colo. Uma fragrância suave enchia-me as narinas; era como o perfume de narcisos num dia de chuva.
   - Chamaste-me e eu vim - disse ele, e começou a afagar-me o cabelo. Fechei os olhos. Os seus dedos corriam pelo meu cabelo, lembrando-me a brisa primaveril envolvendo o calor do sol entre os ramos de árvores que despertavam. Encostei-me ao seu peito, sentindo como se o conhecesse, como se nos tivéssemos visto antes, mas sem saber onde nem quando. Olhei para cima e ele sorriu com um sorriso intenso e afectuoso.
   - Porque não tens chinelos calçados? - perguntei-lhe.
   - Lá de onde venho não são precisos chinelos.
   - És o meu anjo-da-guarda?
   - Quem achas que sou?
   Fitei-o durante um momento. Só um anjo-da-guarda podia ter olhos como os seus.
   - És o meu anjo-da-guarda.
   - Acertaste.
   - Como te chamas?
   - Sou o Anjo da Morte.
   O meu coração quase parou.
   - Por vezes, a morte é dificil, mas não é má nem assustadora. É como uma jornada até Deus; como as pessoas só morrem uma vez, não conhecem o caminho, por isso eu guio-as e ajudo-as na passagem.
   - Estás aqui para me levares contigo?
   - Não, ainda não.
   - Ajudaste a Bahboo?
   - Sim, ajudei.
   - Ela está feliz ?
   - Está muito feliz.
   - Ficas um pouco comigo ?
   - Fico.
   Encostei-me ao seu peito e fechei os olhos. Sempre me perguntara o que sentiriam os pássaros quando planavam ao vento, banhando-se ao sol e confundindo-se com o céu, Agora, já sabia.»


  • Segundo minuto: Breve apresentação do livro do qual foi lido o exerto.


  O livro trata do preço que uma rapariga iraniana teve de pagar pela sua liberdade e principalmente pela sua vida.
   Em 1982 o Iraque estava em guerra com o Irão e eram perseguidos todos aqueles que se opunham ao islamismo fundamentalista.
   Marina Nemat tinha apenas dezasseis anos quando uma das suas aulas de matemática fora substituída pela leitura do Corão, o que a levou a reclamar contra isso e até a criticar o governo no jornal escolar. Foi arrancada a família, presa, torturada e condenada à morte por traição.
   Entretanto, um dos seus muitos carcereiros apaixonou-se loucamente por ela e tentou que a pena fosse mudada. Assim foi, comutando a pena em prisão perpétua. Mas isso custou-lhe um preço. Ela teria de casar com ele, sob a ameaça de a família sofrer se tal não acontecesse, podendo apenas sair para visitar a família com a sua autorização e sob a sua custódia. A relação dos dois foi sempre uma mistura complicada de pavor e ternura. Mas tudo isso viria a mudar quando o Ali, o seu carcereiro, acabaria por morrer nos braços de Marina, dando-lhe a oportunidade de ganhar a sua liberdade, dois anos mais tarde.
   Vendo-se livre do seu pesadelo e das coisas horríveis que fora obrigada a viver na prisão, resolve dar rumo a sua vida. Conhecendo um canadiano, acaba por formar uma família, do outro lado do Oceano Atlântico, no Canadá.
   Vinte anos depois, sentindo-se ainda presa às memórias, Marina resolve publicar o livro, contando detalhadamente a passagem dolorosa que teve pela prisão de Evin.
   Apesar de tudo, a todos os que contribuiram para a sua impiedosa caminhada, Marina oferece o maior dom de todos: o perdão.

  • Terceiro minuto: Improvisação acerca das "Ondas".


  Começo por dizer que as ondas são uma das coisas que tanto trazem paz a nossa alma, como podem deixá-la agitada.
Pessoalmente acalmam-me, mas só de longe, a observá-las. Tenho respeito por elas. São imponentes. Não gostaria de desafiar tal força da natureza.
   A primeira coisa que me ocorre é o Verão. As ídas à praia, a praia lusitana. Sím, a praia lusitana é dona de ondas superiores, em força e tamanho,  às ondas do Mar Negro, das minhas origens. Talvez por não saber nadar, acho-as superiores à natureza humana. E assim é: filhas da Mãe Natureza, transportam os genes da louca força de quem esta é dona, pondendo libertá-la a qualquer que lhe quiser fazer frente.
   Elas podem dominar-nos tanto a a nível físico como a nível psicológico. Dando a tamanha força que têm, conseguem controlar-nos e envolver-nos como um manto que nos quer proteger do frio do inverno, mas que nos consegue "sufocar" de tanta protecção. Mas se pensarmos bem, se estivermos num estado melancólico, elas atraem-nos e deixa-nos flutuar mais e mais, de maneira que nos afundamos em pensamentos e perdemos o rumo e a noção da realidade.
   As ondas são donas de sí e de tudo o que se encontra à sua volta, não dando oportunidade de justificação nem tendo porquês de serem assím.

Iustina, 12ºB

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