domingo, 7 de novembro de 2010

A propósito de MENSAGEM de F. Pessoa e de V Império



A- Simbologia:

Numa primeira aproximação às fontes da simbologia presente da quinta, podemos adiantar, em termos muito sumários, alguns tópicos acerca da arquitectura e simbologia da Regaleira.

A arquitectura da quinta, principalmente do palácio, da capela e do edifício das cocheiras, é classificável como revivalista, com elementos neo-manuelinos, neo-góticos, neo-renascentistas e, em alguns casos, mitigadamente neo-românicos.

Tendo em conta a época da sua construção, trata-se de uma opção estilística anacrónica em termos europeus, mas razoavelmente sincrónica no contexto português, pois se bem que o Palácio da Pena (para dar apenas um exemplo) seja cerca de meio século anterior, o revivalismo tardio deixou marca evidente no nosso país, porventura em resultado do influxo das reacções nacionalista (e, portanto, historicistas) à difícil situação política, social e económica que caracterizam o Portugal da viragem do século XIX para o século XX.

A simbologia presente na Regaleira, muito sinteticamente, pode enquadrar-se nas seguintes tipologias:

a) Manuelina- Embora com menos profusão do que, eventualmente, se poderia admitir à partida, encontramos as cruzes de Cristo, a esfera armilar, alguns cordames, efígies de navegadores das Descobertas e, mesmo, a “empresa” de D. João II: o pelicano alimentado as crias com a sua própria carne;
b) Cristã- Claramente marcada pelo catolicismo romano, de que Carvalho Monteiro era fervoroso seguidor, particularmente pelo culto mariano tão relevante na Europa do Sul e, marcadamente, em Portugal, encontramos sinais evidente de um cristianismo algo místico (Santa Teresa de Ávila e, noutro sentido, Santo António) com traços de um certo maniqueísmo atribuível a Santo Agostinho;
c) Familiar e narcísica- Na quinta abundam as referências, de diversa ordem, à pessoa de Carvalho Monteiro, bem como vários elementos escultóricos que comprovadamente tiveram por modelo elementos da família (filhos e netos do proprietário), nomeadamente representados em quadros de felicidade pautados pelo contacto com a natureza;
d) Naturalista- São inúmeros os exemplos de figuras animais que, em nosso entender, se relacionam directamente com o conservacionismo naturalista da época, praticado por Carvalho Monteiro ao longo da sua vida, nomeadamente pela participação activa na criação e gestão do Jardim Zoológico de Lisboa. Acresce a presença do extravagante e hiperbólico aquário da Regaleira;
e) Greco-romana- Embora como uma espécie de excepção (eventualmente atribuível à herança cultural de Luigi Manini), a mitologia greco-romana encontra-se na estatuária e decoração da parte baixa dos jardins, no painel de azulejos da estufa e, ainda que indirectamente, na decoração central da entrada dos Tritões, no troço superior dos túneis;
f) Enigmática- A alguns elementos da simbologia da Regaleira tem sido atribuído carácter esotérico. Na esmagadora maioria dos casos tais teses não resistem, em nossa opinião, ao escrutínio de uma observação crítica e apoiada na ciência histórica, como é o caso da representação Cristã de Deus que, logo após a entrada, se encontra na capela. De toda a forma, alguns outros elementos simbólicos merecem discussão, em particular a “boca ameaçadora” da fachada posterior da capela e as figuras de Santos, cuidadosamente orientadas, que decoram a torre do mesmo edifício.

Parece-nos particularmente curioso, para não dizer mais, que não se encontre na Regaleira qualquer referência simbólica ou imagética a Luís de Camões, quando é dado histórico incontornável que Carvalho Monteiro reuniu a que era considerada a melhor e maior biblioteca camoniana do mundo, tendo patrocinado diversas edições do e sobre o Poeta, bem como tendo fundado e animado diversas associações camonianas, tanto em Portugal como no estrangeiro.

B- Os túneis da Regaleira e outros elementos dos seus jardins

Os túneis da Regaleira parecem-nos continuar a constituir o quadro distintivo essencial da quinta e, em forte medida, o seu maior mistério ou, pelo menos, a fonte principal de controvérsia e debate.

Não sendo viável alongar o debate sobre os túneis, nos limites deste artigo, ensaiemos, ao menos, a sua descrição, sem deixarmos de relevar alguns dos seus traços simbólicos mais intrigantes.

Na parte baixa dos jardins da Regaleira, após passar-se o vulgarmente denominado “patamar dos deuses”, em atenção às estátuas de divindades greco-romanas ali existentes, aproveitando o caminho que passa pela “casa dos íbis”, acede-se ao troço inferior dos túneis da Regaleira.

Esta primeira parte dos túneis funciona como um labirinto, pelo seu carácter intrincado, que obriga o visitante a percorrer voltas e voltas, quase sobre o mesmo local, dificultando a sua orientação.

Ora, o labirinto é uma combinação da espiral e da trança, pelo que pode ser tido como uma figuração do infinito, num caso perpétuo e noutro do eterno retorno. É também uma figuração da viagem das trevas à luz, portanto podendo representar o caminho iniciático, inclusivamente sob a forma exclusivamente interior, que conduz à morte simbólica do profano e à ressurreição do iniciado, como um homem novo.

O outro elemento evidente deste troço de túneis é o lago, o qual é por vezes apresentado como simbolizando o olho da Terra, pelo qual os habitantes do mundo subterrâneo podem visualizar o que existe no nosso mundo exterior, sem esquecer a referência às águas genesíacas e ao nascimento do Homem através das águas do ventre materno.

Saídos do labirinto subterrâneo da Regaleira, avançamos pelos jardins, a caminho da parte alta da quinta.

Antes de atingirmos o troço superior dos túneis, passamos pelo aquário.

O aquário da Regaleira é uma curiosa construção, desenhada como se de um maciço rochoso natural se tratasse, que se enquadra de forma perfeita na vegetação densa dos jardins, onde igualmente existe uma pequena escada em caracol, que através da artificiosa edificação permite o acesso a um outro caminho, junto ao qual, após uma curva pronunciada, se encontra a que consideramos ser a primeira entrada do troço superior de túneis.

Nesta segunda rede de subterrâneos, mais linear que labiríntica, encontramos um conjunto de cinco locais de entrada, duas das quais na forma de poços, a saber:
a) O poço que denominaremos imperfeito;
b) O poço principal, perfeito;
c) A arcada com torreões, decorada com duas figuras animais e um búzio;
d) O lago;
e) O picadeiro ou campo de ténis.

Para que a visita possa ter carácter simbólico, independentemente da sua função à data da construção, a primeira entrada a considerar é o poço imperfeito, o qual, com apenas 8 metros e 90 centímetros de fundo, tem uma estrutura central que é o poço em si próprio, formada por pedras toscas intercaladas e que permitem visualizar o seu fundo, por trás das quais se desenrola a escada em caracol que leva à parte mais profunda da construção.

Como o poço tem, também, uma pequena escada superior, haverá que seguir por esta, chegando-se a um beco sem saída ? Escolhemos, talvez com o receio decorrente do aspecto tosco e pouco iluminado da construção, a escada que desce, acedendo então a um túnel e à viagem subterrânea que este possibilita.

Estamos na base do poço imperfeito. Os jardins, a luz do dia (ou da Lua ...) ficaram para trás. Entremos no túnel. Avançamos agora por galerias baixas e relativamente apertadas, onde rapidamente não chega qualquer luz natural e que também não dispõem de iluminação artificial.

O troço superior de túneis da Regaleira não constitui, directamente, um labirinto, mas tem com este e com a sua carga simbólica uma relação, pois os seus caminhos subterrâneos podem levar a diferentes direcções.

Alguns metros após sairmos do poço imperfeito, encontramos uma passagem à esquerda, que conduz a um beco sem saída. Temos necessariamente que recuar, voltando ao subterrâneo anterior, e decidir se regressamos ao poço e ao exterior, ou se a nossa coragem nos impulsiona mais além.

Nada nos orienta nessa escolha, nenhuma diferença na aparência do túnel, nenhum sinal ou decoração. Avançamos no sentido original, aparentemente para as profundezas da terra, e logo alguns metros adiante encontramos uma nova encruzilhada. Ou seguimos em frente ou avançamos por um outro túnel, à nossa direita.

Vemos alguma luz ténue à direita e somos, eventualmente, tentados pela proximidade da superfície da terra, pelo nosso mundo de todos os dias. Avancemos, para já, na direcção da luz. Encontramos adiante uma nova bifurcação. De novo duas opções.

Se formos pelo túnel da esquerda, desembocamos no que parece um picadeiro, referenciado pela historiografia como o campo de ténis da quinta.

Nada de muito especial nos chama a atenção, pois a superfície de terra que, nos dizem ter sido o local onde se praticava o ténis, encontra-se enquadrada, sem grande magnificência, por um pequeno troço de muralhas, onde se divisam com torres.

Vamos, de outra forma, admitir que escolhemos avançar em diante, na última bifurcação dos túneis por onde passámos. Chegamos rapidamente a um lago, sendo a saída do túnel por uma arcada enquadrada pela pedra que, artificialmente, cria uma encosta pedregosa na sequência da superfície de água.

Sobre o lago encontra-se uma ponte que permite transpor ambas as margens e aceder a pequenos caminhos entre a vegetação, bem como às estradas de terra que rompem os jardins da Regaleira. Se escolhermos não regressar aos subterrâneos, do caminho junto ao lago chegaremos rapidamente à zona das cocheiras ou, por diferentes vias, a qualquer outra parte da Regaleira.

Pela nossa parte, pretendemos seguir o nosso trajecto oculto e conhecer as restantes componentes dos túneis, pelo que iremos admitir que logo no caminho original, oriundo do poço imperfeito, escolhemos avançar sempre em frente, pelos subterrâneos escuros e húmidos, sem prestar qualquer atenção às vias laterais que encontrámos, saindo desse túnel central.

A alguma distância do poço imperfeito, vemos de novo a luz, a qual nos chega através de um harmonioso arco. Vemos então o impressionante poço perfeito, nos seus 23 metros e 60 centímetros de altura, decorado interiormente por 22 nichos, de diferentes dimensões, sem qualquer conteúdo, e com a sua escada em caracol, com dez patamares, enquadrada por leves e graciosas colunas.

O eixo da entrada inferior do poço está directamente orientado Este – Oeste, considerando o nosso sentido de marcha vindos do subterrâneo. No chão, vemos uma rosa dos ventos, desenhada em mármore de cor rosada e branca, a qual se insere de forma perfeita na acima referida orientação cardinal do poço.

Estamos ainda na base do poço perfeito e, por cima de nós, vemos no topo da construção a luz do Sol. Há, portanto, que subir em direcção à luz. Enquanto subimos, não temos qualquer forma de saber se e como poderemos sair pelo topo do poço.

Sensivelmente a meio caminho das escadas, por alturas do quarto patamar, uma nova alternativa nos surge. Há, de facto, um novo acesso a um túnel, no final do qual se divisa, algo indistintamente, a luz do Sol. Podemos, portanto, abdicar de subir ao topo do poço, chegando sem dúvida mais rapidamente ao exterior.

Chegámos a uma outra saída dos túneis, neste caso enquadrada por uma ampla construção que simula um troço de muralha, com pequenas torres nos dois extremos e um varandim com cúpula ao centro.

Ao centro da construção encontra-se um arco de volta redonda, onde se podem observar alguns motivos simbólicos interessantes.

A decoração do arco inclui treze vieiras estilizadas, de entre as quais apenas as duas que se encontram mais em baixo, nas duas bases do arco, apresentam a face convexa. Na face interior do arco vemos peixes, em número de doze, de aspecto relativamente grotesco.

Ao centro do arco encontra-se um conjunto escultórico constituído por um grande búzio, ao qual se encontram agarrados dois animais de aspecto reptíliano, em cujos membros inferiores e base do dorso vemos entrelaçadas folhas e caules de nenúfar.

Talvez a presença do búzio nos facilite a interpretação. Efectivamente, existe uma concha espiral, confundível com o búzio, que é vulgarmente denominada tritão, na medida em que na mitologia greco – romana essa concha seria tocada por Tritão, filho de Neptuno e de Anfitrite. Esse deus marinho é muitas vezes representado acompanhado dos tritões, seus descendentes, que simbolizam as ondas.

Neste contexto, por correlação com o búzio – tritão ao qual se agarram, os seres reptílianos representados neste portal dos túneis poderão, eles próprios, tratar-se de tritões, animal da família das salamandras (salamandridae, género trituri).

Curiosamente, no interior do grande búzio, algo dissimulado, encontramos um búzio de pequenas dimensões. De novo a simbologia, aquática, da geração da vida ?

Talvez mais curioso ainda é o facto do arco que referimos ter sido equipado com um tubo de água, dissimulado, que muito embora não se saiba se alguma vez esteve operacional teria permitido criar uma cortina de água cobrindo toda a superfície do arco... e ocultando a entrada para os túneis.

Regressemos, por uma última vez, ao nosso trajecto original através dos túneis de Regaleira.

Caso não nos tivéssemos desviado a metade da subida do poço perfeito, optando por subir até ao seu topo, prosseguindo literalmente para a luz, teríamos chegado a uma varanda superior, da qual poderíamos ter prosseguido por uma outra escada até a um último patamar, que não leva a nenhum lugar, mas apenas à visão da copa das árvores dos jardins e do céu, sobre estas.

Da varanda é possível sair para os jardins, por um leve toque numa (aparente) parede de pedra lisa, a qual, como que por magia, se mostra uma porta secreta giratória e que conduz a um recanto dissimulado entre altas pedras cobertas de musgo.

Avançando para os jardins, se olharmos para o local de onde viemos, observamos apenas o que parece ser um grupo rochoso entre a vegetação da Regaleira, o qual oculta totalmente quer o topo do poço, quer a sua secreta porta de saída.

Quem se encontre nos jardins, não só não tem forma de saber onde se encontra o acesso ao poço, como não poderia também compreender de onde teríamos saído, caso não fosse conhecedor dos sigilosos subterrâneos da quinta da Regaleira.

C- A Capela

Num extremo do terreiro fronteiro ao Palácio da Regaleira, em plano inferior à (outrora) magnificente a estufa da quinta, encontra-se a capela da Regaleira.

O pequeno templo, profusamente decorado, contém múltiplos elementos simbólicos que motivam discussão mais ampla que a abrangência do presente artigo.

Afirmemos, portanto, apenas a nossa convicção de que a capela da Regaleira é – somente – um templo Cristão, integrado no catolicismo romano e caracterizado pelo culto mariano, onde perpassa uma certa visão mística e algo maniqueísta da religião.

D- O Palácio

Atravessando o terreiro acima referido, atinge-se o Palácio da Regaleira, o qual consideramos ter tido função estritamente residencial.

Valerá a pena registar algumas curtas notas acerca da utilização das diversas parcelas do palácio, à época de Carvalho Monteiro.

No andar térreo, o acesso principal ao edifício faz-se por um hall de entrada, em frente do qual se estende um longo corredor rectilíneo.

À direita do corredor, para quem entra, temos a sala de jantar, imediatamente seguida por uma copa, equipada com um elevador que permitia o transporte de alimentos e objectos a partir da cozinha.

Seguidamente, encontra-se um amplo hall que liga à varanda exterior e uma sala de estar.

Do lado esquerdo, sempre relativamente à entrada, encontrava-se originalmente a escadaria principal de acesso aos andares superiores, cuja supressão, por iniciativa de Waldemar D’Orey, nos deixa apenas observar, actualmente, o amplo salão do palácio.

Após o salão existia uma sala pequena, onde foi colocada, também por iniciativa de Waldemar D’Orey, a nova escadaria de acesso aos andares superiores do edifício.

Ao fundo do rés – do – chão encontra-se a sala de bilhar, profusamente decorada com imagens de carácter nacionalista e elementos heráldicos.

Também nesta divisão a obra de Carvalho Monteiro foi extensamente modificada, pois foram retirados os bancos de madeira, embutidos na parede, que permitiam assistir aos jogos de bilhar.

Para a memória fica ainda a notícia da existência de provérbios em latim pintados nas paredes do rés-do-chão, que hoje em dia não se encontram visíveis.

Por seu turno, o primeiro andar do palácio é composto pelos quartos da família. O quarto grande com terraço era o de Carvalho Monteiro e mulher, existindo ainda um quarto de vestir, decorado no friso junto ao tecto com frescos, de temática medieval, divisão essa com acesso à escada de caracol exterior.

A referida escada dá acesso ao segundo andar, directamente ao escritório de Carvalho Monteiro.

Nesse andar, as restantes divisões estavam destinadas ao alojamento das empregadas. Convirá aproveitar a oportunidade para esclarecer que os empregados do sexo masculino alojavam-se na cave, que em parte funciona como andar térreo relativamente aos jardins, onde se encontravam igualmente a cozinha e as áreas de serviço.

No terceiro andar do palácio situava-se o quarto de engomar, equipado com pequenos tanques de lavar, bem como uma sala que dá acesso a um amplo terraço.

Vale a pena referir que se encontra patente no palácio da Regaleira a exposição de objectos maçónicos da colecção Pisani Burnay.

E- Curtos tópicos acerca da história do esoterismo português

Tendo em conta a referência constante a temática esotérica, a propósito da Regaleira, parece-nos oportuno incluir neste artigo algumas notas, em forma de tópicos, sobre a história do esoterismo português, por forma a enquadra o debate histórico sobre a Regaleira.

Do ponto de vista da ciência histórica – muito embora haja que sublinhar que a maior parte do trabalho de investigação estará ainda por realizar – o esoterismo português não se pode considerar particularmente fecundo, particularmente se o olharmos comparativamente à volumosa informação, sustentada em fontes históricas, disponível acerca de outros países europeus.

Olhando apenas os séculos XIX e XX, verificamos facilmente que avulta de forma muito evidente em Portugal a presença da maçonaria, regular, depois irregular e, desde a década de noventa do passado século, regular e irregular.

Relativamente a outras correntes esotéricas, relacionadas ou não com a maçonaria, parece certo afirmar que só com o pós- 25 de Abril passamos a encontrar activas em Portugal diversas vias iniciáticas e espiritualistas, o que, aliás, resulta perfeitamente consonante com as longas décadas de conservadorismo e de restrição das liberdades vividas no nosso país.

Admitimos como perfeitamente viável que alguns, particularmente “estrangeirados”, tenham de uma forma ou de outra contactado com as múltiplas vias do esoterismo europeu, designadamente em França, país que durante longo período funcionou como principal referencial cultural da intelectualidade portuguesa.

No entanto escasseiam (para não se dizer que não existem) as fontes que nos permitam afirmar a actividade, por exemplo, de organizações martinistas em Portugal.

Uma das fontes a que podemos recorrer são os escritos de Fernando Pessoa sobre este assunto, mas importará recordar que estes são um pouco posteriores à época na qual viveu Carvalho Monteiro e, portanto, durante a qual foi construída a Quinta da Regaleira que hoje conhecemos, pelo que a sua utilidade para o debate no âmbito do tema desta visita é claramente discutível.

Em especial, não podemos deixar de sublinhar de forma clara que não existe qualquer registo de actividade neo-templária em Portugal na época histórica que nos importa, ao estudarmos a Regaleira, sendo, aliás, conhecidas fontes históricas da maçonaria portuguesa do século XIX que, a propósito da presença dos mitos templários nos rituais da maçonaria, afirmam expressamente a ausência de conexão entre a maçonaria portuguesa e as Ordens do Templo e de Cristo, enquanto ordens militares religiosas com presença relevante na História de Portugal.

Assim sendo, não conhecemos qualquer fundamentação cientificamente válida que possa relacionar a Regaleira com vias esotéricas ou iniciáticas, sendo absolutamente manifesta a ausência de conexão de Carvalho Monteiro com a maçonaria, ao menos em Portugal e, muito em especial, à época da edificação da quinta.

Bibliografia:

Para além de múltiplas referências em periódicos, desde a época da sua construção e até aos nossos dias, a bibliografia que segue incluí de forma bastante abrangente os escritos disponíveis sobre Regaleira, bem como os relativos a Carvalho Monteiro e a Luigi Manini.

- Adrião, Vitor Manuel; “Sintra, Serra Sagrada”, Comunidade Teúrgica Portuguesa, 1990 e 1994 (edição revista), Sintra;
- Anacleto, Maria Regina Dias Baptista Teixeira, “Arquitectura neomedieval portuguesa”, Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Coimbra, 1997;
- Anes, José Manuel Morais:
1- “Quinta da Regaleira- a estranha mansão” (em co-autoria com Paulo Pereira), in “Quinta da Regaleira e Quinta do Relógio”, Centro Nacional de Cultura, Lisboa, 1991;
2- “Digressão Hermética por uma Mansão Filosofal portuguesa, o “Palácio Milhões” em Sintra”, “Vária Escrita”, nº 1, Janeiro-Junho de 1994, Gabinete de Estudos Históricos e Documentais, Sintra;
3- ”Re-criações herméticas- ensaios diversos sob o signo de Hermes”, Editora Hugin, Lisboa, Outubro de 1996;
4- “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, terceira parte “O simbolismo iniciático e esotérico da Regaleira”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998;
5- “O esoterismo da Quinta da Regaleira” (entrevista de Victor Mendanha), seguido de “A linguagem dos pássaros”, Hugin Editores, Lisboa, 1998;
- Almeida, Pedro Basto; “Quinta da Regaleira – a desconstrução do mito”, GIFI – Associação Portuguesa para a Investigação (aguarda publicação);
- Azevedo, José Alfredo da Costa; “Velharias de Sintra”, volume I, Câmara Municipal de Sintra, 1980;
- Dionísio, Sant’anna; “Guia de Portugal”, volume 1- Lisboa e arredores (reedição), Coimbra, 1982;
- “História da Arte em Portugal”, volume 10 (Regina Anacleto) e volume 11 (Manuel Rio-Carvalho), Publicações Alfa, Lisboa, 1986;
- Juromenha, Visconde de; “Sintra Pinturesca ou Memória Descritiva da Vila de Sintra, Colares e seus arredores”, reimpressão anastática da edição original (Lisboa, 1838), Câmara Municipal de Sintra, Sintra, 1990;
- “L’ ópera del genio italiano all’estero- Gli artisti in Portogallo”, La Libreria dello Stato, Roma, 1940;
- Lund, Christopher e Kahler, Mary Ellis; “The portuguese manuscripts collection of the Library of Congress- A guide”, Library of Congress, Washington, 1980;
- Pereira, Denise, “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, primeira parte “Quinta da Torre da Regaleira”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998
- Pereira, Paulo,
1- “História da arte portuguesa”, (direcção), Círculo de Leitores, Lisboa, 1995;
2- “Quinta da Regaleira – história, símbolo e mito”, segunda parte “A Quinta da Regaleira. Simbolismo e História da Arquitectura”, Fundação Cultursintra, Sintra, 1998.
- Ramalho, Américo da Costa; “The portuguese pamplhets”, in “The Library of Congress Quarterly Jornal of Current Acquisitions”, 20, Washington, Junho 1963, pág. 157 a 162;
- Santos, J. Eusebyo dos; “Guia de Cintra, Collares e arrabaldes”, Lisboa;
- Stoop, Anne de; “Quintas e palácios dos arredores de Lisboa”, Civilização, Barcelos, 1986.


in:http://www.gifi.pt/portal/programs/ewpview.aspx?codigo=REGALEIRA 

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