domingo, 31 de outubro de 2010

Diário poético, A Beleza do Mundo

A saudade do Futuro

Estávamos num colóquio e falava-se do fado. Não era sobre o fado, mas veio à baila. Eu disse que durante toda a minha vida, quase até hoje, fugi do fado como o diabo da cruz. Assumi que não gostava, que não me fazia sentir bem, que do ponto de vista estético e ideológico  os textos não me agradavam, que as músicas eram pobres, etc, etc, que o fado representava, para mim, o que existia de mais depressivo e decadente na nossa maneira de viver.
Depois, muito recentemente, compreendi que o que eu evitava era aquele sentimento que se insinuava em mim quando o ouvia: uma insuportável saudade sem saber de quê.
Falávamos no outro dia, numa das aulas, sobre a Mensagem, e também a propósito da História do Futuro, do Pe António Vieira
(http://www.triplov.com/letras/historia_do_futuro/index.htm),
acerca do quinto Império como uma aspiração a algo que já conhecemos e que, portanto, poderá despertar em nós uma por vezes doce, por vezes incómoda saudade... do futuro.
Seria disso que eu fugia? Do... sentir?

Sumários da semana de 25 de Outubro

Leituras expressivas de poemas de Mensagem.
Análise da "Dedicatória" e do início do "Consílio dos Deuses" (duas primeiras estrofes).

Sensibilização à leitura. SPA da Língua. Treino de oralidade.
Ponto da situação: entrega e apresentação de trabalhos, datas e prazos.
O diário poético, algumas sugestões.
Messianismo e Sebastianismo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Concurso "Casa Imaginada"

http://www.trienaldelisboa.com/

Concurso Inês de Castro

http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/Concursos/index.php?s=concursos&tipo=1&concurso=44

Diário Poético, "A Beleza do Mundo"

                            foto R
No caminho para a escola, em tempo de Lua cheia, embora já um bocadinho comida numa das partes, a irregularizar o perímetro, "soa-me" o poema de Ricardo Reis, porque Ela, a Bela, acompanha-me nas subidas e descidas e no meu repousar, a subir, do olhar.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
        Teu exagera ou exclui.
                      Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
            No mínimo que fazes.
                      Assim como em cada lago a lua toda
            Brilha, porque alta vive.”

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Código de correcção dos textos

E:  falta ou perturbação de espaços de parágrafo.
Si: sintaxe
Se: sentido
L:  léxico
M: morfologia
R: repetições
A: acentuação
P: pontuação
O: ortografia
MSi: morfo-sintaxe
Mm: troca maiúsculas/minúsculas            

Prazos e datas

Entrega dos diários poéticos: 22 de Novembro
Teste: 29 (12B e 12D) e 30 de Novembro (12F)
Avaliação dos cadernos: aula do teste
Recitação de textos memorizados: semana de 6 de Dezembro
Auto e hetero-avaliação: semana de 13 de Dezembro

Diário Poético, "A Beleza do Mundo"

                            foto R
Avenida General Roçadas, oito horas da manhã, à esquerda, os prédios, à direita, o "sol que abre os céus"*.
Dois cães a pastar, como Caeiro, e no descampado, onde um dia se erguerá mais um prédio, de frente para o sol, uma cadeira de plástico com uma perna partida, poltrona virada para o espectáculo do nascimento da Estrela, Rei ou Pai.

* Poema "Ulisses", in Mensagem, Fernando Pessoa

Concurso Lisboa à Letra

http://www.cm-lisboa.pt/?idc=416

domingo, 24 de outubro de 2010

Treino de Oralidade

1. Leitura:


A Casa

eu conhecia a distância entre as paredes. caminhei muitas
vezes pelo corredor. a sala: o sofá grande, a janela fechada
para a rua, o quadro bonito e antigo: a sala: estas palavras e
este verso podiam ser o corredor se as palavras fossem
a tinta nas paredes: a cozinha: a mãe a contar-me
histórias, a mesa, a água que lavava os talheres, o lume do
fogão. a cozinha era onde estávamos felizes.
quero que a casa fique desenhada:
quarto,      escada ,      despensa,      sala,
casa de banho,      corredor      corredor,
cozinha      cozinha,      escritório.
depois, subia as escadas:
despensa,      quarto,      quarto,
despensa,      corredor,  casa de banho,
despensa,      escadas,     quarto.
depois, descia as escadas.
eu, na cozinha, chamava a minha mãe. a minha voz: mãe.
a minha mãe respondia-me: estou aqui. e estava num dos
quartos de cima. eu subia as escadas para a encontrar.
de manhã, eu acordava e descia as escadas.
sem que eu soubesse, os anos passavam na casa. sem que eu
soubesse, a minha mãe e o meu pai envelheciam. a casa era
toda de claridade e eu não sabia que iria envelhecer assim que
saísse de casa.
havia janelas e havia portas. eu subia para cima de cadeiras
para abrir as janelas. da janela do meu quarto, via o mundo.
sei hoje que poderia ter vivido sem mais mundo do que esse.
sei hoje que transformei o mundo todo nessa casa. chamo a minha
mãe. está num dos quartos de cima. está muito longe. chamo o meu
pai. está muito longe.


PEIXOTO, José Luís. A Casa, a Escuridão. Lisboa. Temas e Debates. 2002


2. Dissertação:

Aung San Suu Kyi (Rangum, 19 de Junho de 1945)

Líder da oposição política no Myanmar, nasceu em 1945, em Rangum, filha de Aung San, o herói nacional da independência da Birmânia que foi assassinado quando Suu Kyi tinha apenas dois anos de idade. Depois de ter vivido em Londres durante alguns anos, Suu Kyi regressa à Birmânia em 1988, ano da morte da sua mãe. O seu regresso à Birmânia, entretanto denominada Myanmar, coincidiu com a eclosão de uma revolta popular espontânea contra o regime, contra vinte e seis anos de repressão política e contra o declínio económico do país. Assim, Suu Kyi tornou-se, em pouco tempo, líder do movimento de contestação ao regime.
            Nesse mesmo ano, morreram 10 000 pessoas como consequência das medidas repressoras adoptadas pelo regime em resposta à revolta popular. O partido de San Suu Kyi e Tin U (Liga Nacional para a Democracia) obteve uma esmagadora maioria nas primeiras eleições multipartidárias, em trinta anos, de 1990 mas as forças militares continuaram a controlar o poder, depois de impedirem os líderes do partido de governar, mantendo Suu Kyi sob prisão domiciliária e deslocando Tin U para o Oeste. A Birmânia continuou assim a ser dirigida pelo general Ne Win num regime militar ditatorial baseado na opressão, na repressão e no controlo. Em 1990, Suu Kyi recebe o prémio Sakharov, relativo à liberdade de pensamento, e em 1991 é galardoada com o Prémio Nobel da Paz.
            Em 1995, o regime decide anular a pena de prisão domiciliária imposta à Prémio Nobel como demonstração de abertura política e democrática à comunidade internacional. Mesmo assim, as liberdades de Suu Kyi continuavam a ser bastante limitadas e controladas. Nos anos seguintes, apelou à comunidade internacional para isolar o regime militar no poder, na sequência da política de repressão e de contínuas perseguições aos activistas da oposição. Em Setembro de 2000, a activista anunciou que iria fazer uma viagem até Mandalay, no nordeste do país, como desafio às decisões governamentais sobre o levantamento da sua pena de prisão domiciliária (que, assim sendo, não a poderia impedir de viajar) foi detida na estação ferroviária, bem como outros membros do partido, e enviada novamente para prisão domiciliária. Desde há 22 anos, quando começou esta luta, Suu Kyi passou 16 em prisão domiciliária.
Algumas reacções da comunidade internacional:
-  Em 2000, o grupo U2 homenageou-a com uma música chamada “Walk On”;
- Em 2003, em Nova Iorque, ocorreu uma manifestação pela libertação de Aung San Suu Kyi;
-  Em 2007, recebeu em sua casa Ibrahim Gambari, enviado pelas Nações Unidas numa tentativa de mediar conversações entre o poder e a oposição;
-   Em 2008, aquando do seu aniversário, cerca de um milhão de apoiantes, liderados por monges budistas, manifestaram-se, em frente à sua casa, contra a junta militar num apelo à democracia;
-   Em 2008, Suu Kyi foi classificada pela revista Forbes como a 71ª mulher mais poderosa do mundo.

3. Improvisação:

 
Improvisação Oral: Casa

Talvez porque te queira definir demasiadas vezes deva começar de forma substancialmente banal: “A casa é onde o coração está”.
Já debitei. Agora
Assumes-te como um espaço, como um ser, um estado de espírito.
Transformas-te, lentamente, numa conquista e amadureces, depois, para uma obsessão. Eu acompanho-te, ao longo do caminho, porque preciso de te viver por dentro.
Seja talvez por te ter figurado em demasia ou por te ter sentido sempre demasiado distante, procuro-te como me procuro a mim; com a mesma cadência frenética, com a mesma esperança deslustrada.
Talvez estas divagações sejam infrutíferas e o que eles queiram mesmo saber é onde é que eu vou depois do trabalho, onde é que me entrego às ocupações e obrigações da vida normal. Talvez te queira explicar por excesso e eles só queiram a minha terráquea morada!
(Não, não…Não vou perder esta oportunidade. Agora que estamos frente-a-frente não te vou deixar por resolver. Senta-te, por favor, temos sobras por conversar…)

Talvez por me teres dito sempre tão pouco
Por, paradoxalmente, me teres acompanhado tanto
Por te ter atulhado com os meus ideais brilhantes
Por seres só a realidade
Por seres a realidade
E por seres a minha realidade
Por ir ter contigo todas as noites
Por seres um acumulado de definições transcendentes que precisam necessariamente de fazer sentido
Por te ter(es) transformado num espaço tão menos físico que mental
Por te ter assumido como um armário de átomos exibicionistas de educações, costumes e tradições
Por te teres domiciliado na minha cabeça, todos os dias, todos os meses, todos os fins-de-semana.

Oh sim…. Os fins-de-semana!
Malditos, esses! Que me transformam numa eremita nómada

Que me tiram a identidade
E ma devolvem, um pouco mais tarde
Que vão brincando levianamente às casinhas
E esperam que eu os escolte
Que me atacam com um carinho sádico por tudo o que fui
O que serei e o que fiquei a dever

Que me transformaram num comboio em movimento
Num terminal de autocarros, numa mochila às costas
Em direcção a um qualquer êxodo cosmopolita
A um qualquer sítio mais confortável
Porque, ao fim de algum tempo, já todos os espaços fazem comichões.


Queria só explicar-te que já não tens o poder todo:
A minha casa sou eu, vazia dos teus materiais
Cheia da minha conduta, da minha moral, do meu lugar intelectual
Invadida pelas minhas nobres pessoas, esquizofrenias e afins
Preenchida pelos meus companheiros, pelas minhas pequenas vidas.

Agora, sinto-me livre…



Vem…. Vem culpabilizar-me à Rua do Ermo Ambulante, no Largo do Despovoado Nómada, no número variável da solidão, no Lugar da Magistral Alienação deste mundo perverso. Mas vê lá é melhor avisares antes, posso não estar em casa…



Ana Sofia Pires, 12ºF

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sumários das aulas da semana de 18 de Outubro

Treino de oralidade, motivação para a leitura, leitura e análise da Proposição.
Metáfora, apóstrofe, hipérbole, anáfora, comparação e metonímia.
Leitura e análise dos poemas "D. Afonso Henriques", "D. Dinis" e "D. Sebastião" de Mensagem.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sumários das aulas da semana de 4 e 11 de Outubro

Leituras, treino de oralidade.
Classicismo, Renascimento, humanismo, epopeia, Portugal no tempo de Camões.

Ponto da situação em relação ao trabalho dentro e fora da aula; recomendações em termos de avaliação.
Treino de oralidade e motivação para a leitura.
O modernismo: contexto, ruptura, estética.
Estrutura de MENSAGEM.
Leitura expressiva do poema "O dos castelos"

Código de correcção dos textos.
Leitura, treino de oralidade.
Análise comparada de um poema de MENSAGEM  e de uma estrofe d'OS LUSÍADAS.
A geração modernista.

Os mitos. Análise do poema "Ulisses" e da Invocação.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

12º B: ESTATUTO DOALUNO

Apesar de estar de estar, desde o início do ano, nos "links" à direita, e de ter começado por falar deste, aqui fica, mais uma vez, o actual documento, para não esquecer.
http://dre.pt/pdf1sdip/2010/09/17100/0386003879.pdf

Vou também colocá-lo no email da turma 12ºB , que aproveito par deixar aqui:

12b.designproduto@gmail.com

domingo, 10 de outubro de 2010

Curiosidades


  VOCÊS SABEM O QUE É UM PALÍNDROMO?
 NÃO?!
 QUE ABSURDO!!!
Palíndromos

Um palíndromo, como sabe, é uma palavra ou um número que se lê da  mesma maneira nos dois sentidos normalmente, da esquerda para a direita e ao  contrário.

Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O  mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do  conhecido:


 
SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.

Diante do interesse pelo assunto (confesse, você leu a frase de trás p'ra  frente), tomámos a liberdade de seleccionar alguns dos melhores palíndromos da  língua de Camões...

Se você souber de algum, acrescente e passe adiante.
  
         ANOTARAM A DATA DA MARATONA

         ASSIM A AIA IA A MISSA

         A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

         A DROGA DA GORDA 

         A MALA NADA NA LAMA

        
A TORRE DA DERROTA

         LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL  É COR AZUL 

         O CÉU SUECO

         O GALO AMA O LAGO

         O LOBO AMA O BOLO

         O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO 

         RIR, O BREVE VERBO RIR

         A CARA RAJADA DA JARARACA

         SAIRAM O TIO E OITO MARIAS
         ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ
       
                              
E já agora

 

Você sabe o que é tautologia?

É o termo usado para definir um dos vícios de linguagem. Consiste na repetição de uma idéia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:
 
- elo de ligação
- acabamento
final
- certeza
absoluta
- quantia
exacta
- nos dias 8, 9 e 10,
inclusive
- juntamente
com
-
expressamente proibido
- em duas metades
iguais
- sintomas
indicativos
- há anos
atrás
- vereador
da cidade
-
outra alternativa
- detalhes
minuciosos
- a razão é
porque
- anexo
junto à carta
- de sua
livre escolha
- superávit
positivo
-
todos foram unânimes
- conviver
junto
- facto
real
- encarar
de frente
- multidão
de pessoas
- amanhecer
o dia
- criação
nova
- retornar
de novo
- empréstimo
temporário
- surpresa
inesperada
- escolha
opcional
- planear
antecipadamente
- abertura
inaugural
-
continua a permanecer
- a
última versão definitiva
-
possivelmente poderá ocorrer
- comparecer
em pessoa
- gritar
bem alto
- propriedade
característica
-
demasiadamente excessivo
- a seu critério
pessoal
- exceder
em muito .

Note que todas essas repetições são dispensáveis.
Por exemplo, 'surpresa inesperada'. Existe alguma surpresa esperada?  É óbvio que não.
Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias. Fique atento às expressões que utiliza no seu dia-a-dia.

Gostou?
Reenvie para os amigos amantes da língua portuguesa.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Memorização de poemas

Uma das tarefas que espero de vós é a memorização de uma estrofe d'Os Lusíadas (à vossa escolha)
                                          fotoR
Objectivos:
. Apurar a sensibilidade à estética literária de uma forma activa e interveniente
.  Ler partes d'Os Lusíadas com uma intenção de escolha e com critérios estéticos
. Aprender a dizer texto literário de uma forma expressiva, projectada e articulada
. Apreciar a musicalidade d'Os Lusíadas
Sentir o ritmo do texto, através da memorização do mesmo

Podes ver os critérios a ter em conta para a perfeita concretização desta tarefa, aqui:

http://memorialdoluar.blogspot.com/2010/09/arte-de-dizer.html 

ESTAVA-SE CO AS ONDAS ONDEANDO…

Exemplo de uma das imensas formas de fazer (restabelecer?) a ligação entre a literatura que se estuda na aula e a vida (um contributo para inspirar o vosso Diário Poético; claro que a ideia não é fazer igual, nem sequer tão extenso):
                                   foto R

Imaginem um “mil folhas” da melhor pastelaria que conheçam. Estaladiço, leve, aéreo, mil folhas soltas, tendo pelo meio um delicioso e voluptuoso creme de pasteleiro, nos intervalos do folhado e do ar. Por cima, uma artística cobertura de chocolate e açúcar a lembrar a espuma do mar. Saído há pouco do forno, perfumado, morno, sedutor. Agora imaginem que alguém vos coloca à frente esse mil folhas e depois começa a retirar-lhe a deliciosa espuma do mar que o cobre e... deita-a fora! À vossa vista. Prossegue deitando fora camada a camada, as películas de massa folhada e o delicioso creme; termina oferecendo-vos a última camada, a de baixo, já sem vestígios da sensualidade do creme. O desejo é tão forte e a tortura foi tal, que não têm coragem para recusar essa última folha, que, apesar de tudo, até é saborosa. Sabe, no entanto, a pouco. Imaginam então, pelo pequeno prazer, o prazer maior que seria saborear o bolo todo. Não é pelo facto de apenas vos ter sido oferecida a parte de baixo que passam a abominar os “mil folhas”.
Foi isso que aconteceu comigo e com o estudo de Os Lusíadas. Retiraram-me tudo: a musicalidade do texto, a magia de alguns episódios, o imenso universo de conhecimento, o emocionante labirinto narrativo que também é, a sensualidade do canto nono, a atraente loucura de algumas personagens, os inebriantes perfumes das especiarias, e deixaram-me a última camada: a divisão de orações. Nem isso me impediu de amar profundamente aquela obra. Poderia tê-la amado ainda mais, como agora amo, que já a conheço melhor. Foi pouco o que me deram, foi pobre, foi curto, foi redutor, foi até um pouco mentiroso, mas não me retirou o prazer do texto. É claro que teria sido melhor se eu tivesse tido o prazer de ouvir um professor que ao mesmo tempo fosse um bom leitor, lendo para mim, com entusiasmo, algumas passagens, sem me cobrar nada, pelo simples prazer de o fazer, e de o fazer para mim, se eu tivesse sido encorajada a conhecer melhor as histórias dos deuses, esses humanos tão aspirantes à divindade, se me tivesse sido proporcionado chorar e lamentar o Adamastor enquanto arquétipo de todo o infeliz amante, se me tivessem sido proporcionadas outras leituras que ampliassem o universo que existe às vezes cifrado no texto, se pudesse ter saboreado com aroma de canela um verso do episódio da tromba marítima que é assim:
Estava-se co as ondas ondeando...
Se me tivesse sido dado saborear neste verso todo um universo ondulante de um “mil folhas” delicioso causador de um agradável torpor e de um leve e subtil enjoo correspondente ao balanço de uma onda suave...
Um mil folhas é uma construção de jangadas sobrepostas e Os Lusíadas são um “mil folhas” recheado e coberto de espuma do mar e música e ritmo.
Estava-se com as ondas ondeando...
Sujeito: nós?, o Vasco da Gama?, os marinheiros?, os portugueses?, indeterminado?, ou eu?, sei lá quem é o sujeito, talvez o Camões, sei lá, um qualquer marinheiro roto, esfomeado e com escorbuto, se a minha professora d’Os Lusíadas descobre que depois daquele esforço todo, nesta idade, continuo sem saber quem é o sujeito que estava ondeando com as ondas...
Estava-se com as ondas ondeando...
Predicado: “estava-se”... Então…já não se está? Não se voltará a estar? E isto é um predicado, ou... um facto consumado? Uma aflição? Já não há mil folhas feitos de ondas? Ó professora, tanto trabalho para... afinal... Os Lusíadas estão desactualizados? É por isso que querem retirá-los do programa? Eu prometo que divido as orações com os meus alunos, eu prometo rezar todas as orações que quiserem, eu prometo ir a pé à Índia dentro de uma caravela, ou em cima de mil “mil folhas”, eu prometo aprender com o Vasco da Gama a rezar à Divina Guarda, eu até rezo ao divino Baco, mas não nos tirem Os Lusíadas do programa de Português...please!!!...
Um dia experimentei ler uns excertos d’Os Lusíadas a umas crianças pequeninas, umas cobaias, tipo a minha filha versão primeiro ciclo e outros que apanhei na altura desprevenidos, ainda não era proibido. Como receio que brevemente venha a ser. De modo que lá lhes li uns bocados... E não é que os putos... gostaram?!
Estava-se co as ondas ondeando...
As crianças pequeninas sempre amaram a música, as artes e as coisas inúteis e as coisas difíceis como a astronomia e o cálculo, antes de a escola lhes retirar esses prazeres e as atulhar em mil folhas compactos com massa gordurosa e densa e de as afogar em informação inútil que qualquer enciclopédia rasca contém.

Sumários das semanas de 20 e 27 de Setembro.


Sumários das aulas da semana de 20 de Setembro
Lições  5,6, 7 e 8
Leitura de dois contos, definição da planta da sala, escolha dos primeiros alunos a apresentar  sumário e treino de oralidade.
Teste de diagnóstico ( produção de um texto a partir de excerto lido pela professora do livro Pina Bausch de Claúdia Galhós)
Agendamento das visitas de estudo.
A literatura portuguesa ao longo do tempo.

Treino de oralidade.
Compreensão panorâmica sumária da História da Literatura Portuguesa da Idade Média ao Modernismo.
Teocentrismo e antropocentrismo.
Camões e Pessoa, uma ideia em comum: o Portugal mítico e simbólico.
Os modos literários.
Eleição da delegada e da subdelegada. (12ºB)

Sumários das aulas da semana de 27 de Setembro
Lições 9, 10, 11 e 12
Introdução a OS LUSÍADAS. Estrutura externa e interna. Encaixe e estrutura "in media res". Leitura e análise de um excerto do canto V: tempestade e tromba marítima.
Arcaismos, aliteração, comparação e metáfora.
A estrutura sintáctica latina.
Descrição dinâmica.
Leitura de uma crónica sobre Os Lusíadas ilustrativa da relação literatura e vida.

Revisão da estrutura externa e interna. Encaixe e início "in media res". Tom épico e exaltante. Exemplificação de uma possibilidade de ligação entre a aula e a vida: leitura de uma crónica sobre OS LUSÍADAS.
Leitura e análise da proposição:
Análise da inversão sintáctica (sujeito, predicado, vários complementos), sinédoque, tom épico. O "que" com valor causal.
O Canto V na estrutura d’ Os Lusíadas. Análise  do “Fogo de Santelmo” e “Tromba marítima".
Leituras expressivas.







Ponto da situação

MOMENTOS DA AULA
 Início:
. Treino de oralidade (leitura, dissertação, improvisação)
. Motivação para a leitura
. Efemérides
. SPA da Língua
Continuidade:
. Explicação de matéria
. Leituras sublinhadas de textos teóricos (estudo em conjunto)
. Análise de textos literários
. Leituras expressivas de textos literários
. Trabalhos individuais ou em grupo
. Apresentação de trabalhos escritos ou orais


ACTIVIDADES/TRABALHO/AVALIAÇÃO
. Trabalhos individuais ou de grupo, escritos, dentro ou fora da aula
. Apresentação memorizada de textos literários
. Diário Poético
. Testes
. Visitas de estudo (participação, interesse, contributos individuais, comportamento, apresentação de trabalhos).
. Atenção, participação oral espontânea ou a pedido, interesse, comportamento cívico, cooperação, pontualidade na presença e na entrega dos trabalhos, assiduidade.

SECÇÕES DO CADERNO
. Lista bibliográfica
. SPA da Língua
. Informação teórica sobre literatura e estilo
. Recolha de expressões ouvidas durante a leitura (para trabalho posterior)

APOIO VIRTUAL
. Blogue
. Página moodle
. email