domingo, 7 de novembro de 2010

Treino de Oralidade:



1:

“Desta vez não pude segurar as lágrimas. Esmurrei o peito forte e libertei a angústia que me consumia. Tristan não tentou demover-me do pranto. Confortou-me apenas, como se conhecesse intimamente a minha necessidade de desabafar. Murmurou-me palavras doces e embalou-me carinhosamente, até que o silêncio nos abraçou, e o tempo caiu sobre nós como gotas de chuva.
Não sei em que momentos a raiva e a mágoa se desvaneceram e o prazer da sua proximidade se tornou mais forte do que tudo. Quando procurei o seu olhar, encontrei-o marejado de lágrimas. Tristan não se perdoava pelo que dissera. Mesmo que eu afirmasse mil vezes que não havia o que desculpar, ele continuaria a macerar-se por ter desconfiado da minha lealdade.
Sem controlo da vontade, acariciei-lhe a face quente com as pontas dos dedos, surpreendendo-me com o seu sobressalto. Sabia que estava a brincar com o fogo, mas nem pensava em parar. A barba rija arranhava-me a pele; contudo, não era desagradável. Pelo contrário, provocava-me arrepios de calor. Deixei a mão deslizar pelo seu rosto, fixando o olhar nos lábios entreabertos, imaginando como seria bom sentir o seu toque e desejando-o.
 - Cat…
O apelo de Tristan era um pequeno e vão protesto; um aviso de que a situação estava a fugir do seu domínio. Um aviso inútil, pois os seus olhos declaravam que já não existia força no mundo capaz de nos separar.
Quando os meus dedos se entrelaçaram nos cabelos negros, os lábios de Tristan desceram e o meu gemido de antecipação afundou-se na boca ávida. O beijo de Oliver fora uma experiência estranha e traumática, que me deixara insensível perante o seu entusiasmo. O beijo de Tristan foi indescritível. Os seus lábios começaram por mover-se com um carinho quase fraternal. A forma como estremecia, denunciava um tremendo esforço para controlar a vontade de me devorar. Temia assustar-me! Contudo, ao aperceber-se do meu arrebatamento, deixou-se possuir pelo ardor e apertou-me com mais força, explorando a minha boca, tal como Oliver fizera. Só que, desta vez, todos os meus sentidos estavam despertos e receptivos. Deliciei-me com o sabor da sua saliva e entreguei-me sem reservas. Senti-me levitar e cair, com o corpo a arder e a mente a delirar. A paixão era isto? Então, eu queria mais!”

CARVALHO, Sandra. A Última Feiticeira. A Saga das Pedras Mágicas. Editorial Presença.











2- Dissertação:

A Saga das Pedras Mágicas estreou-se com o livro “ A Última Feiticeira”. Conta-nos toda uma história de fantasia passada no tempo em que os Seres Superiores, poderosos feiticeiros, viviam isolados da espécie humana de forma a não existirem quaisquer eventualidades que pudessem gerar conflitos entre espécies. No entanto, uma feiticeira de nome Arawen renunciou aos seus poderes mágicos para se poder casar com o mortal por quem se apaixonara. Para que esses poderes não fossem desperdiçados, ela guardou-os dentro de sete pedras mágicas, destinando cada uma delas aos seus filhos. Ao longo das gerações, estas pedras vão sendo cobiçadas quer por mortais quer por feiticeiros, originando diversas peripécias.
No entanto, como regem as regras dos contos de fadas, o destino das personagens iguala-se ao apaixonante ambiente que as rodeia e, quase que por obrigação, o “mal cai e o bem triunfa”.
A autora desta saga tem o nome de Sandra Carvalho, nasceu em 1972, em Sesimbra. A sua história como escritora resumia-se a contos destinados aos seus entes mais queridos, mas com a estreia deste livro foi surgindo mais um todos os anos, perto da época natalícia.
Assim, o seu potencial literário é publicado e torna-se no seu ganha-pão (como que uma solução para as compras de Natal) e numa escapatória para todos os leitores que gostam de se imaginar fora de um Mundo onde as crises têm um início e um meio, mas nunca um fim.
Estas histórias são cativantes e apaixonantes pela magia que transborda das suas páginas, é impossível ficar-se indiferente a tamanha beleza e tranquilidade, descrita através de palavras calorosas.
A escrita de Sandra Carvalho apesar de correcta e bem estruturada, nota-se ainda algo juvenil como que em fase de aprendizagem surgem palavras “caras” de forma exageradamente repetida, como por exemplo a palavra “algoz” (medo): é nos dada a ler tantas vezes que nos oferece a ideia da autora, de forma frenética e desesperada, agarrada a um dicionário à procura de uma palavra extravagante para tornar o seu texto mais rico.
Contudo, confesso-me uma amante da vida e, em paralelo, dos sonhos. Poder imaginar-me num equilíbrio entre os dois faz-me ansiar pelo devorar dos próximos livros.   

3- Momento de Improvisação:



“Casas”

No singular, uma casa é um abrigo, o nosso abrigo.
É nada mais que um espaço fechado que nos oferece o dom de abrir e fechar a porta, podendo optar por aquilo que entra e nos apazigua o espírito e aquilo que fica lá fora em junção com todas as outras tormentas.
A nossa casa é o nosso reflexo. É o local que nós escolhemos para podermos ser nós próprios e podermos ser as figuras de autoridade.
A nossa casa é a nossa oportunidade de refúgio; e as casas…, bem, essas são os pertences de alguém cheio de sorte, alguém cuja vontade de fuga pode ser sempre respondida com espaços abertos para si, mas fechados para o resto do mundo.


Mariana Fonseca, 12º F

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