Arte Poética
“Um olhar gelado que me abrange da cabeça aos pés”
Sinto-me num desamparo constante sempre que tento descodificar aquilo que me é tão estranho, “arte poética?!”. A definição de arte é um desafio que considero impossível. A poesia, aos meus olhos, é como um monstro aterrorizador, que me faz sentir nada mais do que sentada nos calcanhares, à espera que alguém sopre com fôlego, para que possa tombar de uma vez… E “arte poética?”, “arte poética” é como ver esse monstro a crescer e a crescer…sem nunca mais parar.
Esse monstro que tanto evito arrepia-me, sinto-o como um forte avançar de passos acompanhados de um respirar felino… E por mais que essa respiração abrande, não por piedade, mas para esboçar um sorriso de triunfo, para troçar de mim como se pudesse exclamar por entre dentes…: “- Despe-te! Para mim és culpada!”; deixa-me tão fria, crua e nua… como se um trapo em volta da cintura fosse tudo aquilo que cobrisse o meu corpo.
Ah como só anseio que a morte se cerque do meu raciocínio punindo-me por não ser capaz de rodar a manivela do mundo!
É uma pressão imensa, transforma os dias em dias de febre na minha cabeça. As ondas de sombra teimam em não quebrar nas esquinas e atravessam-me os cornos.
Sinto-me estrangulada dos pulmões à garganta!
Conheço-me incapaz de me dissolver em enredos bizarros. Subornava a fera se possível! Alimentá-la-ia se fosse essa a chave! Dar-lhe-ia de mamar três vezes!
Sinto-me acorrentada a uma esperança ilusória e exaustiva de conseguir travar esta batalha e entender os rugidos da água. Ingénua! A bússola encontra-se enterrada e eu não manipulo mais do que o objectivo, como que limitada pelo vermelho da maçã e o brilho do mar.
Bolas! Desejo a ambiguidade como uma órfã deseja fortuna!
Apetece-me desaparecer numa nuvem, mas o rumor de cada passo aumenta em sintonia com o meu receio e vejo-me medrosa em demasia para desistir. Nada para. Eu não paro, os passos não param, e uma náusea infinita explora todos os cantos da minha mente, exterminando as comédias da minha alma.
Continuo asfixiada por aquele dom de tornar as almas mais pequenas. Já só desejo olhar os meus pezinhos enlameados e centrar-me na nostalgia do túmulo, fazendo do andar nu o maior feito.
A fera rosna-me, mas nunca se verga à minha vontade, apenas suga os versos brancos que eu julgo pintar, resumindo-me a uma fala muda. Com a boca já só mordo o ar e finco a minha teimosia de que a noite não tem seios e jamais me dará a provar alguns sabores…
Nasci desamparada pelo amanhecer, foi sozinha que nasci, num tempo que não teve tempo de começar, pois a maravilhosa morte da minha alma tinha já começado ao fim do dia.
Se eu tivesse ao menos um nome…
Mariana Fonseca
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