quarta-feira, 6 de abril de 2011

Arte Poética (criada a partir de passagens recolhidas de poetas (a sublinhado) e texto dos alunos


Arte poética do (ainda) não poeta

            Encontro-me “sozinho num beco” e bato-me “esburacado por insuspeitas espirais”, subtraio “aos olhares das pessoas” os seus incómodos sensoriais, revelo como fotógrafo, a “assimetria dos homens” no “acontecimento do homem honesto”.
            Calmamente acomodo o meu “irritante estímulo da sensibilidade” nas “testas que se” franzem “ocupadas por uma repentina preocupação”, nos “cafés da minha preguiça”, neste “país” que me “mata lentamente”. Ele, o estímulo, sabe que “estou aqui só por estar”, que me contento com o vagaroso passar das “longas semanas invernais”, com o ritmo das “luzes da cidade a acender-se”. Ele, o estímulo, ri-se de mim e da minha penosa inteligência “em tudo o que não é” comigo, ri-se da minha satisfação por “estar sozinho em casa a dar à manivela do mundo” e ri-se, ri-se muito da minha “raivosa diligência” em “exprimir dúvidas sobre a pureza das ideias”. É, no entanto, este estímulo trocista e sarcástico que me faz avançar proporcionando-me “estas relações entre as coisas”.
            Sento-me para escrever, “atrasado no que devo à eternidade”, e concluo que “onde há pessoas há moscas”…Que “decrepitude mesmo diante de um espantalho sinto vergonha!” Mas prossigamos meus caros prossigamos! Ia eu caminhando e divagando se não estaríamos nós, os ditos poetas, “a inventar novos sistemas para nos livrarmos da nossa situação” criando um “compêndio da história da Humanidade” com “tratados da vida das pessoas” e assim “como um livro as pessoas tinham princípio, meio e fim”. Espantei por uns segundos, vossas senhorias, não é certo? Decidi por uns parágrafos “pôr ciência na minha vida”. Mas não esqueceis que por bem “tudo na vida é comum tudo no mundo concorre”.
Retomo prontamente à “felicidade irrecusável nua e inteira” do “esplendor da presença das coisas”, pois não fossem as coisas e “a obra de arte” não faria “parte do real”. “Um círculo traçado à volta de uma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso”, “o interior é como o exterior das coisas” e chove “chuva de primavera” quando “uma menina ensina o gato a dançar”.
“Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno””era assim que os mestres iam escrevendo as palavras que hão-de salvar a Humanidade”. E é assim que pulsa a minha “respiração das palavras” nesta “profunda tomada de consciência” e é assim que carne e matéria se unem em “louvor e protesto” para “que estas palavras” fiquem “escritas por causa dos outros também” e é pelos outros também que eu, o artista, com a minha “obra perfeita que” me ”mete nojo” pretendo salvar o que resta da nossa humanidade. Afinal, já que a política é uma arte, a Arte é uma justiça.

Ana Sofia Pires

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