Excerto do texto que eu li, trata-se duma passagem do principio do livro Romance Incompleto, do meu tio-bisavô que acho que retrata muito bem a situação tanto do protagonista como o meu tio-bisavô.
Era meio dia e o sol caía a pino. O gado estendido no chão, á sombra dos ervideiros, ruminava o pasto que havia devorado antes daquela hora ardente. Um pouco afastado, encostado ao bornal, encoberto por uma moita, o pastor passava o ócio, lendo soletradamente um livro velho, cujas folhas em alguns capítulos, com o tempo e o correr de mãos, haviam desaparecido; pois este já fora usado por outros pastores que ainda o menos o haviam compreendido. Manuel, porém, meditava sempre em todas as palavras, embora em muito custo abrangidas. Por fim, percebeu que se tratava da vida de um pastor como ele, que um dia fugira para a cidade e achara fortuna.
O primeiro capitulo do livro estava completo e, pela descrição do autor, Manuel julgou-se em condição de imitar o herói do romance. O processo do enredo era complicado, mas o pastor, mas o pastor, por cuidadoso, lia e relia as frases para melhor se inteirar do assunto. Ele tinha quinze anos, e desde pequenino que guardava o gado, única ocupação que lhe era acessível. As poucas letras que aprendera, fora à custa da grande força de vontade, pois, desde muito novo, por instinto ou por curiosidade de inexperiente, o seu sonho era emigrar.
Comentário:
Este livro é incrível, para mim é absolutamete incrível. É a prova viva de como um homem (o meu tio-bisavô) através da vontade e do esforço, consegue passar de um pastor de rebanhos a um escritor de livros, ou seja, consegue instruir-se, sem recorrer à escola, e passar de alguém de pouca cultura e analfabeto a um escritor, que é considerada um posição ocupada por pessoas bem instruídas e letradas.
Este excerto permite resumir quase toda a história, trata-se de um pastor (como o meu tio-bisavô) que, através de um livro que retrata um pastor na mesma situação dele, decide ir para a cidade e achar fortuna, como o personagem do conto). Só esta parte, está escrita de forma genial: o livro fala duma pessoa como o meu tio-bisavô que procura fortuna após ter lido um livro sobre um pastor na mesma situação dele que a achou. Temos portanto a mesma pessoa em períodos e dimensões diferentes: o meu tio-bisavô que era o escritor deste livro enquanto procurava fortuna (o pastor do presente), o personagem da história que está a aprender a ler um livro, quem sabe este mesmo que o meu tio-bisavo escreveu, e sonha em emigrar e procurar fortuna (o pastor e meu tio-bisavo do passado) e o personagem do livro que o personagem do livro do meu tio-bisavo está a ler, que era um pastor que tinha fugido para a cidade e achado fortuna (o pastor e meu tio-bisavo do futuro, agora passado) Um texto tão paradoxal como este (como pode o personagem do livro ler um livro que falava sobre ele e, provavelmente escrito por ele próprio no futuro, enquanto o meu tio-bisavô ainda estava a escrevê-lo), uma situação tão extrema de "teatro dentro do teatro".
Tema de improviso: Limites
Os limites são a linha que marca o máximo da capacidade de qualquer coisa. O limite da força, da velocidade, da inteligência, tudo tem um nível que não pode ser ultrapassado e é esse nível que nos permite ver o quanto limitados e condicionados estamos, pois é esse nível que nos condiciona.
Eu não concordo com isso, os limites existem para serem ultrapassados, são esses máximos que nos levam a querer ser sempre melhores e a evoluir além das nossas possibilidades. Eu acredito que, através do esforço e da vontade, podemos ser melhores do que somos e ultrapassarmo-nos a nós mesmos, é o que nos torna imperfeitos e nos permite, portanto, avançar sempre em direcção à perfeição. Tenho de acreditar, porque se isto não for verdade, qual é o propósito do humano? A humanidade já não é um bando de homens das cavernas ou um bando de refinados com uma folha a tapar as zonas intimas (dependendo da religião); evoluimos e, tal como o meu tio-bisavô que conseguiu superar as suas limitações de analfabeto, até ao nivel de um escritor letrado. podemos sempre chegar mais longe.
André, 12 D
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