domingo, 12 de dezembro de 2010

E depois da apresentação oral:


Leitura:


Há coisas que me dizem melhor do que eu me digo.
Eu digo que é necessário ternura sobre as mãos.
Eu digo que é necessário arrastar meteoros, comprimi-los
com muita força contra
o coração.
É necessário embater contra o silêncio, escutar
o cansaço das suas pálpebras
insolúveis, as pupilas do seu cio assoberbado
e rutilante.
Eu digo: é necessário partir, partir subliminarmente
através de âncoras. De inusitadas amarras. De mudos
girassóis incrustados na epiderme.
É necessário regurgitar falésias, clarabóias, espinhos e
leopardos, enigmas de sangue sobre as rosas
da garganta.
É necessário imigrar com a língua decisivamente até
às tuas trompas, dispersá-la sobre a convulsa febre
das carótidas, adormecê-la sobre o rumor iníquo das
tuas virilhas.
É necessário aninhar a língua no teu útero, digo: arrebatar
de uma vez por todas a sua generosidade
desdenhosa.
E é necessário urgir. Intemperar. Envenenar as víboras neurasténicas
que confundem a fome ao meu sangue, a sua amplidão louca
e desconexa.
É necessário despir-me, gritar-me, infiltrar-me no ruído incorrigível
das tuas peripécias.
Amar.
É necessário amar-te. Eu digo que é necessário amar-te. Amar-te
com o silêncio diuturno a explodir-me nas
veias. Com a inocência suprema de uma tenacíssima, delicada
candeia
dentro das inúmeras casas da cabeça. Amar-te com os olhos fugazes
de uma imperturbável criança, irascível e
intensa. Misteriosamente
submersa.
É necessário calar o meu desejo com a tua boca. É necessário aspergi-lo
furiosamente sobre a lentidão incendiária
da tua beleza nigromante, corruptora.
Eu digo: é necessário uma lanterna
avassaladora, uma segredada cicatriz à chuva
como o insólito silêncio de uma planta.

Há coisas que me dizem melhor do que eu me digo.
Diz-me melhor a tua ausência. A viperina ressonância
do teu cheiro. O perigo cúmplice do teu nome,
que de tudo o que digo irrompe
e me encadeia.
                                                                Nuno Miguel Ramalho  in nunonemmais.blogspot.com

Dissertação: "O Poeta"

   Conto então a história do Nuno.
   Porque nasceu assim ninguém sabe, mas também não há explicação para os dons.
   Conheci-o há muito e limitava-me a admirar as coisas que dizia nas raras vezes que o ouvia falar. Convivi com ele por pouco tempo e muito intensamente, a ouvir os seus ideais e ideias embriagadas de paixão. Absorvi a sua velhice jovem e a maneira como falava. Bebi a pessoa que apresentava ao mundo e apaixonei-me pelo ser que é para ninguém a não ser ele mesmo.
   Como todos os "grandes" só irá ser reconhecido depois de morto. Acredito que é trágico, porque este sentimento é algo impossível de partilhar com o mundo. 
   Algo tão simples e complexo simultaneamente, que só vivido se irá compreender.


Improvisação: "Os meus dons"

   O porquê dos dons é uma incógnita no mundo, mas que existem é inegável. São-nos dados e o nosso único dever é fazer o melhor que podemos com eles. Se nos dão um, dois ou mil, também não sei, mas ao longo da nossa vida eles vão surgindo, dependendo do que nos é pedido e da etapa que estamos a ultrapassar.
  Por agora tenho dois dons. Cantar foi o primeiro que me apercebi. Não que a minha voz seja inigualável ou mesmo "boa", mas sei que tenho a capacidade de transmitir sensações e puxar emoções com o som da minha voz. O último só me apercebi recentemente. Acho que tive que ganhar alguma maturidade para perceber o que era em concreto e como o usar, mas ajudar e cuidar das pessoas à minha volta é uma necessidade que tenho e algo que sou boa a fazer, por isso, sim, é um dom.
   Não sei porque me foram dados mas, por acreditar nas forças superiores, sei que têm uma razão de ser. Nem sempre têm uma explicação mas uma razão, sim. Por isso porquê questionar, se os podemos simplesmente aceitar?
   

Concha Sacchetti

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