terça-feira, 29 de março de 2011

“Um olhar gelado que me abrange da cabeça aos pés”

(Texto elaborado com palavras alheias e da própria)


Sentia-me desamparada. Apenas sentada nos calcanhares, esperava que alguém soprasse com fôlego, para que pudesse tombar de uma vez.
Conseguia sentir, nas minhas costas, um forte avançar de passos e um respirar felino… A respiração abrandava, não por piedade, mas para esboçar um sorriso de triunfo e exclamar por entre dentes…:
- Despe-te! Para mim és culpada!
A roupa já se encontrava, no chão, em farrapos enraivecidos. Um trapo em volta da cintura era tudo o que cobria o meu corpo, mas sentia-me tão fria, crua e nua… como se a morte fosse cercar-se do meu raciocínio por não ser capaz de rodar a manivela do mundo.
Vivia dias de febre na minha cabeça. As ondas de sombra teimavam em não quebrar nas esquinas e em atravessarem-me os cornos, deixando-me estrangulada dos pulmões à garganta.
Incapaz de me dissolver em enredos bizarros, subornava a fera e alimentava-a. Dei-lhe de mamar três vezes, numa esperança exausta de conseguir travar aquela batalha e entender os rugidos da água. Ingénua. A bússola mantinha-se enterrada e eu não manipulava mais do que o objectivo, como que limitada pelo vermelho da maçã e o brilho do mar. Desejava a ambiguidade como uma órfã deseja fortuna
Apetecia-me desaparecer numa nuvem, mas o rumor de cada passo aumentava em sintonia com o meu receio e via-me medrosa em demasia para desistir. Nada parava. Eu não parava, os passos não paravam, uma náusea infinita explorava todos os cantos da minha mente e acabava com as comédias da minha alma.
Continuava acorrentada por aquele dom de tornar as almas mais pequenas, desejando poder só olhar os meus pezinhos enlameados e centrar-me na nostalgia do túmulo, fazendo do andar nu o maior feito.
A fera rosnava-me. Não me permitia boicotar a minha própria raiva e aflição, mas a minha fala era já muda. Com a boca mordia o ar e fincava a minha teimosia de que a noite não tinha seios e jamais me daria a provar alguns sabores
Desamparada desde o amanhecer, foi sozinha que nasci e num tempo que não tivera tempo de começar, começara a maravilhosa morte da minha alma ao fim do dia.
Se eu tivesse ao menos um nome…

Mariana Fonseca, 12ºF


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