quarta-feira, 16 de março de 2011

Treino de Oralidade: o que foi lido e dito

10 / 02 /2011
“ Sem espaço para inconsciências” (página do Diário Poético)

Preparava-me para entrar no metro, quando me senti ser literalmente empurrada para dentro dele. As pessoas continuavam a encaixar-se umas nas outras até lotarem o espaço na sua totalidade.
Tinha um livro entreaberto nas mãos, numa tentativa de leitura e abstracção, mas cada paragem significava um aumento do número de entradas e o livro acabou por se colar ao meu peito, transformando-se num acrescento do mesmo.
Senti-me invisível quando me apercebi rodeada por homens altos, de ar atarefado, vestidos com escuros fatos cinza e sobretudos. Todos olhavam nervosamente para o relógio e bufavam de impaciência enquanto eram empurrados e me empurravam também, acentuando gradualmente a minha transparência.
Dei por mim a rir baixinho, quase de forma gloriosa e ocorreu-me que os outros poderiam julgar-me louca ou, no mínimo, estranha, mas pareceu-me que essa crítica seria impossível perante a minha mais recente vantagem: transparência. Ri-me mais um pouco, não o conseguia evitar, mas desta vez ria-me de forma um pouco trocista. A verdade é que não conseguia ser indiferente àquela situação: todos os que se quiseram manter inconscientes viram-se presos numa luta, viram-se obrigados a reagir perante consequências de acções das quais não foram autores, viram-se a tomar conhecimento de uma indisposição e dificuldade geral; por fim, viram-se forçados a encontrar espaço para a consciência.

“O porquê…”

Escrevi este texto numa manhã de greve. Não uma greve minha, mas uma greve de transportes e, por isso, uma greve que se tornou minha e de muitos outros.
Fernando Pessoa partilhou o seu desejo misto de inconsciência e consciência, ou seja, um paradoxo que o tornava consciente, mas indiferente à dor que surge obrigatoriamente por detrás… Uma impossibilidade.
Também nessa manhã foi impossível ser-se indiferente a uma dor constante que abrange diariamente a grande maioria. Todos foram conscientes da necessidade de mudança, sentido na pele uma dificuldade atroz, destruidora de conceitos como “gato” ou “ceifeira”.

“Os não espaços”

Uma outra impossibilidade ou uma mesma impossibilidade traduzida de forma diferente. Defini “espaço” através da consciência cruel que nos é imposta, por outras palavras, defini-o através da realidade.
 “Os não espaços” seriam o lar da inconsciência, mas esta desapareceu já há muito, tornando-os nada mais do que irreais.
 Assim, “os não espaços” são apenas mais uma utopia, mais um desejo paradoxal.

Mariana Fonseca
12º F

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